- Folha de S. Paulo
O dólar caiu, os juros baixaram e a Bovespa subiu no dia seguinte ao da "lista de Janot".
No dia em que a esquerda fez protestos notáveis contra as mudanças na Previdência, na CLT e contra Michel Temer em geral.
Foi coincidência: o motivo maior da alegria veio lá de fora, dos EUA. Mas o povo do mercado e empresários graúdos mantêm o sangue-frio quando analisam os efeitos da Lava Jato na tramitação das "reformas".
Além de frio, otimista. Muitos acham que o governo vai se desmantelar mais um pouco, mas que Temer fica e que os parlamentares não têm alternativa a não ser tocar as "reformas", fugindo ou não da polícia.
Os preços do mercado melhoraram nesta quarta (15) porque o banco central dos EUA (Fed) anunciou que deve elevar seus juros de modo espaçado e paulatino. A depender do Fed, a calmaria na finança global continua.
Além do mais, uma dessas empresas que avalia o risco de calote de países (Moody's) tirou o "ponto vermelho" da nota do governo do Brasil (de perspectiva negativa, de baixa, para estável). Foi uma surpresa, a reforçar otimismos, no entanto sempre voláteis.
A Moody's disse que:
1) o governo retomou controle sobre a política macroeconômica, à deriva até meados do ano passado, e que há sinais de retomada econômica;
2) a política dá mais sustentação às "reformas";
3) parece agora que as estatais não vão precisar de socorro financeiro do governo e que o dinheiro federal para Estados falidos será limitado.
Fed mansinho e Moody's animaram a praça.
O real então subiu, na mesma onda de todas as moedas emergentes relevantes. Caíram as taxas de juros no mercado de atacado de dinheiro. Aumentaram as apostas no mercado de que o Banco Central do Brasil vá cortar a taxa de juros em um ponto, em 12 de abril, acelerando a baixa da Selic.
Em suma, embora o motivo de animação na praça do mercado tenha sido quase todo externo, a "lista de Janot" não contribuiu para abater os ânimos do pessoal do dinheiro grosso, pois já seria esperada por todo o mundo, governo, Congresso e "mercado".
Empresários e gente da finança, uma meia dúzia ouvida por este jornalista, acha, sim, que a mudança na Previdência deve atrasar, dado o tumulto da corrupção. Mas todos chutam que a coisa passa, não muito desfigurada, até setembro (data de aprovação final no Senado).
Mais gente ainda diz que "não há alternativa".
Não há alternativa a Temer (doutrina "é o que temos"); se Temer cair, via TSE, cai mais tarde, depois das "reformas". Não há alternativa para o Congresso, a não ser tentar estabilizar a economia, aprovando "reformas".
Temer se mexe. Está tentando resolver querelas com seus aliados famintos no Congresso, em sucessão de jantares, cafés e reuniões. Vive às voltas com seu líder no Supremo, Gilmar Mendes. Conversa sem parar com o empresariado que se ocupa algo mais de política.
Em breve, o governo lança campanha para dizer que a recuperação econômica "vem aí", se a Justiça não derrubá-la, como fez com a propaganda da reforma previdenciária.
Os gritos das ruas e a sirene da polícia não alarmam de modo exagerado o pessoal nos palácios de Brasília e nas torres envidraçadas da finança de São Paulo
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