- Folha de S. Paulo
A evidência historiográfica, de 30 anos para cá fortalecida por técnicas oriundas das ciências duras, deixa cada vez mais nítido o papel decisivo dos laços de confiança entre as pessoas para o sucesso ou o fracasso relativo das nações.
Nathan Nunn, de Harvard, concluiu que o maior peso na exportação de escravos entre 1400 e 1900 causou subdesenvolvimento em regiões africanas que figuravam entre as mais prósperas do continente antes do início do ciclo escravista.
Quando a própria liberdade está ameaçada pelo vizinho, disposto a guerrear e sequestrar para vender gente, a confiança desaparece, e a sociedade se fragmenta e empobrece. Leia-se "O Esplendor de Portugal", de Lobo Antunes, para ter uma ideia do que isso significou para Angola.
Dessa ótica, a trajetória do Brasil desde a redemocratização tem sido, para os otimistas, de acerto de contas com a herança extrativista e oligárquica. Aos solavancos, o país rumaria para o restrito grupo dos países em que o acesso ao poder e ao dinheiro está franqueado a todos.
Já os pessimistas tomam os solavancos não como exceção, mas sim como regra. Ganharam pontos nas últimas semanas, pois abalou-se a adesão ao postulado crucial de que a lei vale para todos.
Um empresário assumiu subornos e crimes em série, mas em troca de uma operação ainda mal explicada e açodada em que envolveu os presidentes da República e do PSDB, ganhou imunidade penal.
Uma penca de provas de abuso ostensivo do poder de compra no pleito de 2014 foi ignorada pela maioria do TSE. Fica a mensagem de que o vale-tudo para eleger-se, mormente nas campanhas vultosas e importantes, não será necessariamente punido na Justiça especializada.
Surge agora ameaça de conflito entre vizinhos institucionais. O Brasil da desconfiança e dos conchavos volta a insinuar-se, com sua cara horrível e ancestral.
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