O impeachment da presidente Dilma Rousseff, há cerca de um ano, foi um fato político capaz de deflagrar no País um processo de renovação nacional em todos os aspectos, pois deixava para trás não apenas um governo desnorteado e incompetente, mas principalmente um modelo de desenvolvimento baseado em desvarios terceiro-mundistas. Ao ser desmoralizado o voluntarismo lulopetista, abriu-se ao Brasil uma oportunidade para a implantação das bases de um crescimento sustentável, coerente com seu potencial humano e natural. Ao mesmo tempo, graças à vigorosa ação anticorrupção simbolizada pela Lava Jato, criou-se a ocasião de melhorar os quadros políticos e de reduzir o raio de ação dos parasitas do dinheiro público, ou pela implacável aplicação da lei ou pela redução da interferência do Estado na vida nacional – e, portanto, das ocasiões que fazem o ladrão. Mas o que temos visto, graças a uma mistura de messianismo de uns e esperteza de outros, é uma frustrante reversão dessas expectativas.
Merece elogio o esforço da equipe econômica do governo para manter em funcionamento uma sóbria política de estabilização, especialmente difícil em meio ao caos provocado pelas sucessivas crises políticas – algumas reais, outras fabricadas. O resultado desse empenho já é notado apesar do pouco tempo que a equipe teve para trabalhar. A inflação cedeu, os juros vêm caindo e alguns setores, como indústria e agronegócio, apresentam sinais razoáveis de recuperação.
Mas é evidente que tal quadro não basta para decretar o fim da imensa crise herdada do governo desastroso de Dilma Rousseff. Tampouco se pode dizer que o Brasil está pronto para um ciclo de expansão em bases robustas. Isso só será possível, em primeiro lugar, se as reformas agora em discussão no Congresso forem aprovadas.
É aqui que a atual turbulência política colabora de maneira decisiva para o atraso nacional. Em lugar de líderes capazes de enxergar além de seu próprio nariz, não faltam governistas hesitantes ou dispostos a cobrar caro por seu apoio às reformas e oposicionistas raivosos que fazem tudo para solapar as iniciativas do governo, sem se preocupar se, com isso, agravam as condições de vida da população. O resultado é o progressivo enfraquecimento das propostas do governo, em especial da reforma da Previdência.
A desidratação das reformas resulta em parte da desmoralização dos políticos em geral, já que a luta contra a corrupção se converteu em guerra santa contra os políticos.
Em vez de sanear a vida pública, essa cruzada pretende na verdade intimidar todos os que decidam participar do esforço comum. Ao colocarem liminarmente sob suspeita qualquer um que esteja na política, os radicais acabam afastando dessa atividade os bons cidadãos. Afinal, quem, senão os velhacos de sempre, se arriscará a ingressar numa arena na qual sua sorte será decidida pelo movimento do polegar de quem se julga acima do bem e do mal?
Nada de bom deriva da presunção de que a justiça tem de ser feita mesmo que pereça o mundo. Em lugar do almejado saneamento, o que se terá, entre os escombros, será a consagração da mediocridade. Basta observar as perspectivas para a disputa presidencial do ano que vem – o líder das pesquisas, o demiurgo petista Lula da Silva, promete retomar o mesmíssimo modelo populista que nos condenou à atual crise, enquanto os demais concorrentes se digladiam na vã tentativa de provar que, se não podem ser os melhores governantes, pelo menos serão os mais puros.
Aos brasileiros que não querem ser governados por santos, mas por líderes capazes de estimular o melhor do País, resta a mobilização pela continuidade do pouco que até aqui se conquistou depois da providencial queda de Dilma Rousseff. Há um caminho claro a seguir, tanto na economia, por meio das reformas e da recuperação do equilíbrio fiscal, como na política, com mudanças que efetivamente resgatem o valor do voto e confiram ao Congresso uma autêntica capacidade de representação do eleitor. A solução da crise depende da mobilização dos homens honestos e práticos deste país.
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