- Valor Econômico
Partido se habilita para ficar no poder sob qualquer governo
Tirante o partido do presidente da República, o PP é a legenda mais governista. Liderou o centrão no desembarque que selou o destino da ex-presidente Dilma Rousseff e foi a legenda que contribuiu com o maior percentual de votos para que Michel Temer se safasse em ambas as vezes que a Câmara dos Deputados se pronunciou sobre as denúncias da Procuradoria Geral da República.
É também a legenda com a maior proporção de réus na Lava-Jato, mas a blindagem não basta para explicar seu governismo. Nenhum partido trilhou melhor a ponte para o futuro que o PP. Foi sob o PT que o partido ganhou assento no clube dos grandes, mas foi o governo do PMDB que lhe deu cadeira cativa. A partir dela tornou-se o partido mais bem posto para arrebanhar o quinhão tucano no governo, não apenas pelos serviços prestados, mas por aqueles que ainda pode vir a oferecer.
Na segunda-feira, o presidente do PP, o senador piauiense Ciro Nogueira encontrou o presidente. A Previdência não entrou em pauta. A versão espalhada pelo Palácio do Planalto, de que a reforma ministerial está condicionada à sua votação, é uma tentativa de dar continuidade ao jogo de faz de conta que cerca o tema.
O governo finge apoiar e uma plateia cada vez menor finge acreditar na viabilidade de uma proposta com ganhos fiscais relevantes. A bandeira da reforma da Previdência emprestou ao grupo que assumiu o poder e a seus aliados o verniz de que precisavam, mas o presidente nunca, de fato, subiu ao ringue por sua aprovação.
Aos partidos do centrão liderado pelo PP só interessa mexer em privilégios, especialmente aqueles das carreiras que os perseguem. Mas nenhuma promessa de ministério os mobilizará pelo tema. Ciro Nogueira devolve a bola ao presidente da República como um dia o fez com Dilma numa conjuntura muito mais dramática.
Chamado ao Palácio às vésperas do impeachment, o senador disse que a apoiaria desde que a ex-presidente arregimentasse os votos necessários para escapar. O titular de plantão é outro, mas o discurso do presidente do partido é o mesmo. É ao governo que cabe demonstrar ter os votos necessários para votar a reforma. Se conseguir, o PP não se negaria a apoiá-la, mas o partido não vai se expor.
A moeda é a desconfiança. Os tucanos rumam para o desembarque com o discurso de que apoiariam a reforma, mas temem que sua aprovação seja faturada junto aos agentes econômicos pelos partidos que permanecerem no governo. Estes, por seu turno, temem se expor porque uma derrota seria facilmente explorada por adversários em suas bases eleitorais.
Ultrapassada a cortina de fumaça da reforma da Previdência, o que permanece, de fato, na mesa, são as concessões do presidente a aliados que podem vir a jogá-lo ao mar nas tratativas de sua sucessão. Ninguém quer abandonar os contratos e as vitrines eleitorais de suas pastas antes do tempo, mas Ciro Nogueira não perde a fleuma. O PP não se opõe à proposta de Temer de antecipar a saída daqueles que vão disputar as eleições, mas estabelece a isonomia como critério.
Se o titular da pasta mais importante do partido, Ricardo Barros, da Saúde, tiver que sair, na mesma fila devem estar Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) e Marcos Pereira (Indústria, Comércio e Desenvolvimento). Como estão na mira da Lava-Jato e não querem perder foro privilegiado, cabe a esses ministros liderar a resistência.
A fila não para por aí. A incorporação do ministro da Fazenda e eterno candidato à Presidência da República, Henrique Meirelles, aos demissionários acabaria por jogar por terra qualquer reforma antecipada. Ciro Nogueira parece tão confiante de que o presidente não será capaz de montar uma equação capaz de contemplar toda a base que até estabelece o início de dezembro, antes da convenção tucana, como prazo para que a improvável reforma ministerial pretendida pelo presidente da República aconteça.
A negociação em torno da ocupação do quinhão tucano tucano mostra um presidente que ainda tem a caneta, mas assina, cada vez mais, na condição de refém. Foi a votação das regras da disputa eleitoral de 2018 que desequilibrou, de uma vez por todas, o jogo em favor do centrão. A guilhotina da cláusula de desempenho e a expectativa das mudanças em torno da regra das coligações já levam os parlamentares dos menores partidos a buscar abrigo nas siglas maiores, fortalecidas por recursos eleitorais e partidários mais gordos.
Pelo assédio, Ciro Nogueira calcula que o PP poderia dobrar de tamanho se a janela partidária fosse amanhã. Mas o presidente do PP não quer mais do que 60 parlamentares. Hoje tem 45. O filtro não reza pela cartilha da ficha limpa, mas pela disciplina. O aumento dos recursos à disposição dos partidos fez crescer a disputa interna. Daí que o senador só queira parlamentar obediente à orientação partidária.
A dobradinha preferencial do PP é com o DEM do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com quem Ciro Nogueira toca de ouvido. Os demais partidos do centrão aderem por osmose. Unidos ao PMDB, teriam mais da metade do tempo de TV. No partido que mais contas tem a acertar com o Judiciário, a certeza é a de que a economia será o grande eleitor de 2018. O senador parece convicto de que a rejeição abaterá petistas e tucanos antes de chegar ao seu partido.
Para que o presidente da República possa vir a amalgamar este bloco para garantir uma sucessão com salvo-conduto ainda deve ser capaz de concluir a reforma ministerial e fazer decolar a economia. Se fracassar, o centrão vai a mercado. Quem se viabilizar, leva, não importa se o nome de fantasia for PT ou PSDB.
O PP liderou algumas das negociações que moldaram as feições do governo Michel Temer, como o gigantesco perdão de dívidas empresariais e a reforma que aumentou o poder de fogo dos planos de saúde frente aos usuários. Foi capaz ainda de aumentar sua influência sobre os órgãos reguladores da economia em mandatos que ultrapassam o mandato do ocupante do Palácio do Planalto. Não comanda a nova Polícia Federal, mas a crescente cizânia entre os órgãos de investigação é promessa de que dias melhores virão. Foi com este portfólio que se habilitou para permanecer no poder seja qual for o resultado das eleições presidenciais.
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