Em uma campanha curta, candidatos já devem começar a expor suas propostas sobre questões básicas para o país, o que facilitará a escolha pelo eleitor
A desistência do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que sai da corrida presidencial antes mesmo de formalizar sua entrada pelo PSB, significa menos um concorrente com a característica de outsider, muito valorizada num momento em que o político tradicional virou sinônimo de corrupção, de cadeia e de rejeição popular. Antes, refugara o apresentador Luciano Huck, e outro com pedigree semelhante, João Doria (PSDB), já havia sido batizado na vitória surpreendente na eleição municipal em São Paulo e resolveu tentar o Palácio dos Bandeirantes, sem competir com o ex-patrono Geraldo Alckmin para o Planalto. Não são desprezíveis os quase 10% de apoio a Joaquim Barbosa detectados em pesquisas, e que já estão sendo disputados pelos demais candidatos. Como a campanha desta vez é mais curta, entende-se que a caça a alianças se acelere, para a captura não só dos eleitores egressos do ex-ministro do Supremo.
Do ponto de vista do eleitorado importa saber em que bases os acordos estarão sendo costurados e, mais do que isso, o que pensam, enfim, os senhores e senhoras candidatos. O tempo passa, e questões sérias estão colocadas à frente do país.
O candidato Jair Bolsonaro (PSL) acaba de falar sobre a Previdência, problema-chave do Brasil, e defender um sistema para os jovens, a fim de evitar uma transição “tumultuada”. É pouco e ininteligível.
Entende-se que possa haver uma prevalência da órbita política numa fase inicial das conversas para montagem de alianças. Está presente, também, o cuidado em atrair aliados que somem tempo de TV na campanha eleitoral dita gratuita. E assim como existe a busca pelo outsider — por enquanto atenuada com a defecção de Joaquim Barbosa —, há a procura pela ocupação do centro no mapa ideológico. O ponto médio entre Bolsonaro e Boulos.
Porém, cada vez mais é necessário que os aspirantes ao centro ou ao que seja sustentem suas aspirações com propostas concretas. No momento, por exemplo, o dólar está em alta no mundo, há algum nervosismo em mercados globais, e a vizinha Argentina volta ao FMI depois de 15 anos. Sem estar com alguns fundamentos equilibrados — a inflação encontra-se acima de 20% e as reservas externas, depauperadas — as vibrações provocadas pela conjuntura americana abalaram Buenos Aires. O assunto deveria preocupar os candidatos brasileiros. Como a economia globalizou-se, o fato de os Estados Unidos estarem virtualmente em regime de pleno emprego (apenas 3,9% de desemprego) leva ao temor de que o banco central americano acelere a elevação dos juros.
Neste contexto, os candidatos precisam dizer o que pensam, por exemplo, da reforma da Previdência, essencial, e também explicar como conseguirão recursos para retomar investimentos na infraestrutura e ampliar gastos na educação e saúde. Isso facilitará as conversas políticas e ajudará o eleitorado.
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