- Folha de S. Paulo
Tudo indica que o pré-candidato do PDT à Presidência quer ser o Lula de 2002
Desde a redemocratização, alguns candidatos se notabilizaram por concorrer repetidas vezes à Presidência. Nomes como Lula, Eymael, Levy Fidelix, Enéas e José Maria de Almeida.
Nenhum deles cumpriu um hiato tão grande quanto o de Ciro Gomes, que após 16 anos volta à disputa que já percorreu duas vezes (comparação que, vale dizer, usufrui do direito de não acreditar que a nova investida presidencial de Fernando Collor sobreviverá até 7 de outubro, data do primeiro turno).
Em 2002, ano da última tentativa de Ciro, o mundo tinha, como agora, uma Argentina pendurada no FMI, e o Brasil, novidade nenhuma, um governo ruim de voto.
A corrida pelo Planalto incluía um candidato que tentava se despir da imagem de radical e outro com imagem de arestoso demais. A Folha sabatinou os dois, e os títulos falam por si. Do primeiro foi: “Evasivo, Lula poupa bancos, mídia e FHC”. Do segundo saiu: “Ciro afronta mercado, ataca Lula e critica FHC”.
Escalando no gogó, Ciro alcançou o segundo lugar das pesquisas. Sua campanha acabou enterrada pela famosa frase machista “a minha companheira tem um dos papéis mais importantes, que é dormir comigo”.
A verborragia do Ciro de 2002 é mais parecida com a de Bolsonaro de 2018 do que com a do Ciro de agora. O Ciro reloaded, tudo indica, quer ser o Lula paz-e-amor de 2002.
Até aqui, a sorte lhe tem sorrido.
A prisão de Lula empurra o PT para sua companhia, ainda que o processo leve mais tempo do que ele gostaria. Com a saída de Joaquim Barbosa, o PDT de Ciro pode transformar em namoro a amizade com o PSB, mesmo que a relação permaneça extraoficial. Da esquerda satelital só vão chegando simpatia e amor.
Aos 60 anos, Ciro precisa mostrar que amadureceu a ponto de controlar o incontrolável. Se conseguir, tem tudo para ser competitivo. Mas esse ainda é um grande “se” —para alguém com seu histórico, um pescotapinha dói muito.
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