Horas após admitir possível erro de Flávio, Bolsonaro o defende e critica MP do Rio
Numa mudança de tom em relação ao que dissera mais cedo em Davos, o presidente Bolsonaro afirmou à noite que a investigação do MP do Rio envolvendo seu filho Flávio, senador eleito pelo PSL, tenta atingi-lo e é arbitrária. Antes, Bolsonaro afirmara que o filho teria que “pagar o preço’’ por seus atos.
Daniel Gullino, Jussara Soares e Karla Gamba | O Globo
DAVOS (SUÍÇA) E BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro começou o dia ontem, em Davos, adotando um tom crítico à situação de um de seus filhos, o senador diplomado Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), citado em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por movimentações financeiras atípicas. Depois de passara quarta feira esquivando-se de jornalistas, o presidente voltou a abordar o assunto à noite, e, desta vez, fez uma defesa enfática do primogênito e falou em “arbitrariedade” do Ministério Público do Rio.
Num dos primeiros compromissos da agenda no Fórum Econômico Mundial, na Suíça, Bolsonaro concedeu entrevista a uma agência internacional em que abordou o agravamento do caso em torno do filho e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. Disse que Flávio terá de pagar pelos erros que eventualmente tenha cometido e que sejam comprovados. Bolsonaro chegou a dizer, inclusive, que “lamentava como pai”, mas que o filho teria de pagar, se fosse o caso, o preço por seus atos:
—Se por acaso ele errou, e isso for provado, eu lamento com o pai, mas ele terá que pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar—disse o presidente à Bloomberg.
À noite, porém, em outra entrevista, Bolsonaro mudou de discurso. Ele criticou os investigadores, ao afirmar que o Ministério Público do Rio estaria tentando “atingir o garoto” para “tentar me atingir” na Presidência da República.
— Não é justo atingir o garoto, fazer o que estão fazendo com ele, para tentar me atingir. O Brasil vai muito bem e nós não recuaremos no nosso propósito de colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Ao meu filho, aquele abraço. Fé em Deus que tudo será esclarecido, com toda certeza —disse à TV Record.
O presidente fez questão de deixar claro que não duvida da integridade do filho:
—Acredito nele. A pressão enorme em cima dele é para tentar me atingir. Ele tem explicado tudo o que acontece com ele nessas acusações infundadas.
Para Bolsonaro, o MP-RJ cometeu uma “arbitrariedade” contra o filho. O presidente voltou a dizer que houve quebra ilegal do sigilo bancário de Flávio.
— Esteve, sim, com o seu sigilo quebrado. Fizeram uma arbitrariedade para cima dele. Nós não estamos acima da lei. Muito pelo contrário. Como qualquer outro, estamos abaixo da lei —disse Bolsonaro.
COAF NÃO QUEBROU SIGILO
Decisões do Superior Tribunal de Justiça autorizam o Coaf a repassar informações bancárias a autoridades com poderes de investigação, mesmo sem decisão judicial. Além disso, a lei que criou o Coaf determina que o órgão encaminhe dados de movimentações financeiras suspeitas a autoridades, também sem necessidade de quebra judicial do sigilo.
O dia de ontem foi marcado por idas e vindas na comunicação do governo. Após a entrevista à Bloomberg, Bolsonaro cancelou uma coletiva de imprensa da qual participaria em Davos.
Minutos depois do cancelamento na Suíça, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, convocou a imprensa para uma apresentação surpresa das medidas prioritárias referentes aos cem primeiros dias do governo. Nela, voltou atentar isolar o caso do governo:
—O governo não vai perder o norte, tem rumo, sabe onde quer chegar.
Flávio está na berlinda desde que veio à tona relatório do Coaf com movimentações consideradas atípicas de R$ 1,2 milhão, no intervalo de um ano, na conta de Queiroz. Conforme revelou o colunista Lauro Jardim, a movimentação chega a R $7 milhões em três anos. Uma das transações listada sé ade cheques no total de R$ 24 mil para a primeira dama, Michelle Bolsonaro. O presidente disse tratar-se do pagamento de parte de uma dívida de R$ 40 mil.
Anteontem, Flávio responsabilizou Fabrício Queiroz pelas nomeações em seu gabinete da mãe e da mulher do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, tido pelo MP-RJ como o homem forte do Escritório do Crime —organização suspeita do assassinato de Marielle Franco.
O ex-policial foi alvo de um mandado de prisão anteontem e está foragido. Ele é acusado há mais de uma década por envolvimento em homicídios. Adriano e outro integrante da quadrilha também foram homenageados por Flávio na Assembleia Legislativa do Rio.
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