Biden ainda é favorito, mas o rival tem dado prova de uma estratégia consistente, que tem surtido efeito
Donald Trump surpreendeu o mundo em 2016 — e pode surpreender de novo em 2020. O democrata Joe Biden, seu adversário nas urnas em novembro, ainda é favorito. Mesmo assim, a distância entre os dois tem encurtado, em particular naqueles estados tidos como decisivos no convoluto sistema eleitoral americano.
Biden entrou na campanha com vantagem inédita, superior a dez pontos. Mas, uma vez que o presidente é eleito por um Colégio Eleitoral, de nada adianta ele conquistar votos nos estados onde já sabe que vencerá. O que importa é ganhar na meia dúzia de eleitorados críticos.
Entre o fim de julho e o fim de agosto, a dianteira de Biden sobre Trump nesses estados encolheu seis pontos. Estava, no início da semana, dois pontos atrás da que Hillary Cinton mantinha a esta altura da corrida. Biden está na frente, mas, se vale a lição de 2016, isso não é garantia.
Num país polarizado pela figura insólita de Trump, a parcela de indecisos é ínfima. Como o voto não é obrigatório, vencerá o lado que convencer os grupos demográficos mais favoráveis a votar. Negros, minorias e o eleitor urbano são o alvo dos democratas. Brancos sem nível universitário e o eleitor rural, o dos republicanos. Nesse embate, os últimos passos de Trump dão prova de uma estratégia coerente, que tem surtido efeito. A aposta democrata na agenda cultural e racial o beneficiou indiretamente. Na mesma manifestação onde democratas enxergam um protesto legítimo contra o racismo, trumpistas só veem baderna.
A violência semeia apreensão entre eleitores simpáticos a Trump que poderiam nem se abalar a votar. É por isso que, em Kenosha, cidade do Wisconsin onde o negro Jacob Blake foi alvejado por um policial branco, Trump tentou instilar o medo. O Wisconsin é um dos estados decisivos, cujo eleitorado forma um microcosmo do país. Fica no Meio-Oeste, região que deu vitória a Trump em 2016, onde os dois lados concentram a campanha. Quem vencer lá, leva a Casa Branca.
Na pandemia, Trump continua sendo Trump. Quer começar a vacinar a população antes da eleição — mesmo sem amparo científico. Diante da ampliação do voto pelo correio, fala em fraudes imaginárias e pede que seus eleitores votem duas vezes — mesmo sendo ilegal. O voto postal aumenta a incerteza. Como a apuração será mais lenta, é possível que haja indefinição ou mudança na noite da eleição. É imprevisível a reação de Trump a um cenário em que começa a noite ganhando, mas acaba derrotado nos dias seguintes. Desprezar suas chances de vitória seria um erro gravíssimo. O mundo precisa estar preparado para a reeleição, ainda que seja o cenário menos provável — ou o menos desejado.
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