O mais importante para São Paulo e para os paulistanos é a inclusão da agenda ambiental no eixo central das campanhas
Foi-se o tempo em que a chamada pauta verde era uma agenda restrita às campanhas de poucos candidatos tradicionalmente ligados à proteção do meio ambiente. Qualquer governante do século 21, nas três esferas, deve pensar em formas de compatibilizar o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental. Na verdade, hoje já se sabe que é impossível dissociar uma coisa da outra.
É alvissareiro, portanto, que a maioria dos candidatos à Prefeitura de São Paulo tenha decidido incorporar a pauta verde às suas campanhas. São Paulo há muito já demandava um novo olhar sobre desenvolvimento urbano e novas formas de lidar com os desafios impostos aos paulistanos pelo vertiginoso crescimento da cidade. E eles são múltiplos, envolvendo questões de natureza social, econômica, urbanística e ambiental. A pandemia de covid-19 tornou ainda mais premente a necessidade de governo e sociedade pensarem juntos o futuro da megalópole.
Se, por um lado, parece ser consensual entre os candidatos a presença da temática ambiental em qualquer discussão relevante sobre a cidade, por outro, a dispersão de ideias para o desenvolvimento de projetos nessa seara – por toda sorte de razões, inclusive ideológicas – ainda dificulta a formação de um movimento suprapartidário com força para fazer avançar o debate e mobilizar a sociedade. É uma barreira que precisa ser superada, pois, obviamente, questões como a mudança climática, por exemplo, não têm lado político, são imperativos naturais com os quais se deve lidar.
“A mudança climática é um tema que todo prefeito, de direita, de esquerda ou de centro, vai ter de enfrentar, pois as chuvas vão aumentar, haverá mais gente em habitações sob risco e vamos ter mais ondas de calor com impacto na provisão de alimentos”, disse ao Estado o diretor regional do C40 para a América Latina, Ilan Cuperstein. O C40 é uma coalizão internacional de prefeitos liderada por Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, que visa a promover políticas de combate às mudanças climáticas. Há 96 prefeitos brasileiros no C40, entre eles o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB).
O prefeito, pré-candidato à reeleição, informou ao jornal que até o fim deste ano deverá apresentar o planejamento da cidade de São Paulo para os próximos 20 anos. “O foco (do crescimento) será na vocação da economia criativa como uma área de atuação de baixa emissão de carbono, mas que ao mesmo tempo é capaz de gerar emprego e renda e reduzir desigualdades”, disse Covas.
O Estado procurou todos os pré-candidatos à Prefeitura de partidos com representação no Congresso para avaliar as propostas para a retomada econômica na cidade no cenário pós-pandemia e a conciliação desse esforço com a agenda da proteção ambiental. Algumas propostas combinam ações de inclusão social, geração de emprego e fomento de atividades ligadas à economia verde. É o caso das pré-campanhas de Andrea Matarazzo (PSD), Felipe Sabará (Novo), Jilmar Tatto (PT) e a do atual prefeito.
Eduardo Jorge (PV), Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL) propõem ações voltadas para programas de renda mínima emergencial. Já Arthur do Val (Patriota), Marcos da Costa (PTB), Joice Hasselmann (PSL) e Orlando Silva (PCdoB) disseram que darão foco às ações de geração de empregos na cidade.
O mais importante para São Paulo e para os paulistanos é a inclusão da agenda ambiental no eixo central das campanhas, não mais sendo um tema acessório, quando não meramente figurativo. O futuro da cidade depende de projetos que não descuidem do meio ambiente e das populações mais vulneráveis às intempéries. “O que temos observado”, disse Jorge Abrahão, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, “é que a pandemia escancarou problemas que já eram esperados. A política não incorporou a visão integrada com a política ambiental. Ainda trabalha como se essa questão pudesse estar apartada do processo.”
Uma São Paulo menos hostil e mais acolhedora no futuro começará a ser planejada nas urnas neste ano.
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