Para
ex-prefeito do Rio, disputa ao Planalto será das mais abertas desde 1989, sem
favoritos para as duas vagas na etapa final
Por Cristian Klein - Valor Econômico
RIO - “Ninguém é carta fora do baralho” para a próxima corrida presidencial - nem o ex-ministro da Justiça e ex-juiz Sergio Moro - e a eleição em 2022 tem o potencial de ser a mais disputada desde 1989, com as duas vagas no segundo turno em aberto, afirma o vereador e ex-prefeito do Rio por três mandatos Cesar Maia (DEM). O cenário, prevê, será bem distinto do padrão de competição que opôs petistas e tucanos por duas décadas e que desmoronou parcialmente em 2018, mas apontava ao menos duas forças políticas claras. A tendência agora é de incerteza. “Teremos um segundo turno muito diferente de 2018. Diferente porque não haverá favorito. Em 2018 os dois concorrentes no segundo turno estavam pré-definidos”, lembra, em referência a Jair Bolsonaro, então candidato pelo PSL, e Fernando Haddad (PT).
Pai
do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), Cesar defende, em
entrevista, a união do que classifica de “forças democráticas” para uma aliança
que pode até se fragmentar no primeiro turno, mas não na segunda etapa. “O
fundamental é não termos uma fragmentação no segundo turno e o poder aglutinador
prevalecer”, afirma. Cesar Maia sinaliza que nesse grupo há espaço para
eventual adesão à candidatura de centro-esquerda de Ciro Gomes (PDT), algo que
foi rechaçado em recente entrevista ao Valor pelo correligionário
Eduardo Paes. O prefeito do Rio disse que o PDT demonstrou, regionalmente, nos
últimos anos, não querer praticar uma política de alianças ao lançar candidatos
contra ele e, por isso, Ciro não mereceria receber apoio. “Não se pode
confundir eleições nacionais com municipais. É outro panorama”, diverge o
ex-prefeito.
Cesar Maia advoga a ideia de um “centro democrático” mas evita falar do futuro eleitoral do filho, um dos maiores responsáveis no Congresso por articular o campo político. Prefere não comentar a possibilidade da participação de Rodrigo na corrida presidencial - ainda que como vice. Em 2018, o pai declarou em entrevista ao Valor apoio ao tucano Geraldo Alckmin em desacordo à pretensão do filho que buscava concorrer ao Planalto. “Cabe a ele responder. Estamos muito longe de 2022. Pense em 2016”, esquiva-se.
Maia
também prefere não opinar sobre eventual candidatura própria do DEM, que tem em
suas fileiras o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Mas afirma que o
apresentador Luciano Huck (sem partido) está no jogo e não poderia mais ser
considerado um outsider, pelo grau de envolvimento com atores políticos nos
últimos anos. Sobre Moro, não o afasta do páreo, como já fazem alguns
analistas: “Ninguém é carta fora do baralho. Os próximos meses dirão”.
Cesar
Maia é contundente quando analisa o desempenho do ministro da Saúde, Eduardo
Pazuello, cuja gestão classifica como um desastre. “Um desastre que pelos
atrasos está produzindo uma mortalidade muito além do previsível em meses de
verão. Isso aponta para um ciclo de pandemia muito, muito maior do que seria
razoável”, critica.
A
atuação de Pazuello só é possível pelo respaldo de Bolsonaro. E a insistência
do presidente em manter o negacionismo - depois de dez meses e a morte de 200
mil brasileiros - se beneficia da falta de manifestações de rua, devido a
medidas de distanciamento social. “A pandemia gerou uma imobilização popular. Sobre
ela, a base do presidente se afirmou. Mas olhando as pesquisas em seu conjunto
a situação de Bolsonaro não é tranquila”, diz.
Estudioso
de levantamentos de opinião, Maia argumenta que “as pesquisas às vezes
enganam”. Em sua opinião, as eleições de 2018 foram uma entressafra e
produziram a “sensação de uma virada”. Mas foram ponto fora da curva,
argumenta. “Em 2020, a curva voltou a seu leito”, aponta. O ex-prefeito não vê
Bolsonaro com uma substancial popularidade, pois teria cerca de 30% de apoio num
cenário “em que ainda não há um quadro definido de alternativas”. “O único que
se pode garantir é que teremos segundo turno em 2022”, afirma.
Nesse
momento, Maia não vê razões para a abertura de um processo de impeachment,
mesma posição do filho, que não deu prosseguimento aos pedidos de afastamento
de Bolsonaro. “Seria uma agitação inócua”, diz. O vereador, por outro lado,
também não vê motivos para que o presidente avance sobre a independência do
Congresso. Bolsonaro defende a candidatura de Arthur Lira (PP-AL) à presidência
da Câmara contra Baleia Rossi (MDB-SP), aliado de Rodrigo Maia, que lidera um
bloco cujo principal discurso é o risco de interferência do Executivo no
Parlamento. Cesar Maia minimiza: “A dinâmica política, desde 1988, tem sido a
estabilidade institucional, com a afirmação do Estado de Direito, e aponta para
a afirmação da independência dos poderes, independentemente de nomes”.
O
pai de Rodrigo Maia afirma não acreditar que a distribuição de cargos por
Bolsonaro possa favorecer Lira, já que o apoio em contrapartida não pode ser
garantido, dado o sigilo do voto. “O voto secreto afeta os dois lados e não
gera obrigações e inibições”, diz. Para o ex-prefeito, a eventual vitória de
Baleia Rossi, com a adesão formal de partidos de esquerda, não significa que
essas legendas o forçariam a exercer uma presidência menos amistosa que a de
Rodrigo. “Certamente não. O que vale são as instituições e a estrutura legal. É
isso que vai guiar o legislativo. Que enfrentará eleições também em 2022”,
afirma.
Economista,
Cesar Maia discorda da declaração de Bolsonaro, feita na terça-feira, sobre a
suposta insolvência do país. “O Brasil não está quebrado. O problema é o
governo federal não ter se envolvido nas reformas. E o ministro da Fazenda
[Paulo Guedes] ter se inibido ao lado do presidente”, critica.
Mas,
agravada pela pandemia, a situação fiscal pode piorar ainda mais, com o
prolongamento das crises sanitária e econômica. Maia considera inevitável os
movimentos feitos por prefeitos e governadores, como o de São Paulo, João Doria
(PSDB), ou da iniciativa privada, por meio de clínicas particulares, que buscam
imunização própria, diante da inércia do governo federal. “O processo de
vacinações por coordenação nacional no Brasil sempre foi exemplar. Essa descentralização
é muito mais uma reação ao imobilismo federal. Não é saída, é um recurso ao
desespero que as pessoas, os Estados e municípios enfrentam”, diz.
No âmbito local, Cesar Maia assistiu à filha Daniela, irmã gêmea de Rodrigo, assumir a presidência da Riotur, que foi epicentro do escândalo “QG da Propina”, que levou o ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) à prisão. Há pouco mais de 20 anos, Maia foi contrário à entrada do filho na política. Queria que Rodrigo seguisse no mercado financeiro. Em relação à Daniela, porém, conta que não fez esforço para dissuadi-la do cargo. “Ao contrário, porque encaixa bem no perfil e na experiência dela”, diz.
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