O Globo
Uma presença emocionou os convidados do
jantar que produziu a foto de Lula e Geraldo Alckmin no domingo passado. Aos 92
anos, o advogado Almino Affonso subiu no palco, fez discurso e recebeu uma
medalha. Representava a geração de políticos que viram a democracia desmoronar
no golpe de 1964.
Ministro do Trabalho em parte do governo
João Goulart, Affonso foi incluído pelos militares na primeira lista de
cassados. Refugiou-se na embaixada da Iugoslávia, passou 12 anos no exílio e
voltou ao país a tempo de participar da campanha pela Anistia. Aproximou-se de
Lula nas greves dos metalúrgicos, mas nunca quis se filiar ao PT. Depois se
elegeu vice-governador de São Paulo pelo PMDB e deputado pelo PSDB.
“Na minha juventude, não participo mais da
política no sentido eleitoral”, brinca o ex-ministro, hoje sem filiação
partidária. “Mas acho que precisamos unir quem for possível para proteger e
restaurar a democracia”, defende.
Amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Affonso considera que a aproximação entre Lula e Alckmin “espanta e não espanta” ao mesmo tempo. “Nas últimas eleições, PT e PSDB expressaram visões opostas. Mas os dois partidos já estiveram bem próximos no passado”, lembra.
Quando Jair Bolsonaro foi eleito, o
ex-ministro declarou que era “exagero” temer um novo golpe contra a democracia.
“Isso foi naquela época. Agora eu confesso que mudei de opinião”, admite, três
anos depois. “O cidadão que está na Presidência faz ameaças frequentes. Já
disse que o que aconteceu nos Estados Unidos, no Capitólio, também vai
acontecer por aqui”.
A militarização do governo é uma das
maiores preocupações de Affonso. No ano passado, o Tribunal de Contas da União
apontou que os militares ocupavam mais de seis mil cargos civis no Executivo.
“Acho respeitável um militar ter função pública. Mas transformar essa
possibilidade numa constante, com um ministério verde-oliva como o atual, não é
algo desejável. Na verdade, é algo inquietante”, ressalta.
No jantar promovido pelo grupo
Prerrogativas, o ex-ministro de Jango contou ter aconselhado Lula a buscar
asilo numa embaixada para não ser preso pela Lava-Jato. “Mandei um recado de
amigo. Ele agradeceu, mas disse que não poderia aceitar. Este é um dado da
força moral desse jovem”, elogiou, antes de declarar apoio a Lula em 2022.
“Independentemente da preferência por
partidos e candidatos, espero que tenhamos uma eleição tranquila e que se
restaure a confiança na democracia”, afirma o advogado, que mantém a voz de
tribuno e continua a acompanhar o noticiário político diariamente.
Sem citar o nome de Bolsonaro, Affonso diz
ter dois desejos para 2022: “Que tudo isso que estamos vivendo seja superado
logo. E que o ilustre senhor que ocupa a Presidência volte aos seus cuidados
pessoais”.
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