O Globo
IPCA-15 acima do esperado em janeiro era tudo que o Banco Central não queria a uma semana da reunião do Copom
O IPCA-15 acima do esperado em janeiro já
fez com que vários bancos e consultorias aumentassem as projeções para a
inflação deste ano. Isso era tudo que o Banco Central não queria a uma semana
da reunião do Copom. Mais do que o número, em si, o que chamou atenção dos
economistas foi a composição do índice, com aumentos de preços em 75% dos
itens, o maior patamar desde fevereiro de 2016. A inflação está espalhada, a
taxa em 12 meses permanece em dois dígitos e a inflação de serviços também está
alta. Com o aumento dos preços do petróleo, a Ativa Investimentos estima que a
gasolina no país ainda está 16% abaixo dos preços internacionais, indicando que
haverá mais pressões por reajustes nos combustíveis pela Petrobras.
Logo após a divulgação do IPCA-15 pelo IBGE, o Credit Suisse subiu sua estimativa para a inflação deste ano de 6% para 6,2%. A LCA consultoria aumentou de 5,5% para 6%, enquanto o Itaú Unibanco elevou de 5% para 5,3%. São só três exemplos, mas que indicam como o ano começou com uma forte piora das expectativas. O Banco Central já se comprometeu com um aumento de 1,5 ponto na reunião da semana que vem, o que levará a Selic para 10,75%, e ainda assim não está conseguindo controlar as projeções do mercado. O risco é que seja forçado a subir demais os juros e levar a economia a uma recessão mais severa.
Da suíça, em entrevista à coluna, o
economista-chefe do banco Lombard Odier, Samy Chaar, diz que há duas travas
para que grandes instituições financeiras aumentem os investimentos no Brasil.
Uma delas é o risco eleitoral, que só irá se dissipar em outubro, e a outra é
justamente o ciclo de alta da taxa Selic. Quanto maior a inflação, mais
prolongado pode ser esse ciclo, o que significa insegurança para quem quer
trazer dólares para o país.
— Gostaríamos de aumentar nossa exposição
(de investimentos) no Brasil. Mas a eleição precisa passar, assim como o ciclo
de alta dos juros. Quando o BC parar de subir os juros, certamente haverá um
aumento do apetite. Por agora, isso está segurando o investidor internacional —
explicou.
Nesta semana, o FMI reduziu a projeção de
crescimento do Brasil para 0,3%, o número mais baixo entre as maiores economias
do mundo. O aumento do Ibovespa neste início de ano também precisa ser visto
com cautela. Como mostra o gráfico, as bolsas sul-americanas estão em alta,
puxadas pelos preços das commodities, o que pode facilmente se reverter. Há
pouca correlação com a atividade.
Em Brasília, o evento sobre a carta-convite
da OCDE teve o ministro Ciro Nogueira como grande protagonista. Isso quer dizer
que, nesse cenário complexo, a política econômica ainda servirá primeiro aos
interesses do centrão.
Ajuda da China
Argentina, Chile, Colômbia e Peru também
vivem um bom momento no mercado de capitais, assim como o Brasil. A alta das
commodities é explicada pelo corte de juros pelo Banco Central chinês. Na visão
dos investidores, isso significa que o presidente Xi Jinping fará o que for
preciso para manter a economia do país asiático aquecida, o que aumenta os
preços de itens como minério de ferro, soja, cobre e carnes, impulsionando a
bolsa de países exportadores.
‘Efeito rebote’
Ao analisar o impacto da Ômicron em países que já passaram por essa nova onda da pandemia, Samy Chaar acredita que haverá um “efeito rebote”, ou seja, uma queda no curto prazo, mas com volta rápida para os níveis anteriores. Por isso, na média, ele não acredita em perdas para a economia mundial. “Isso aconteceu na África do Sul, Inglaterra e outras economias da Europa”, explicou. A esperança é de que o mesmo aconteça no Brasil. Ainda assim, ele espera uma alta de apenas 0,2% no PIB do país este ano, por causa da alta das taxas de juros.
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