Correio Braziliense
Pela legislação vigente, as
federações terão que se manter durante quatro anos e serão verticalizadas, ou
seja, se reproduziriam em todas as Unidades da Federação e teriam que valer
para as eleições de 2024
Dirigentes do PT, PSB, PCdoB e PV
avançaram, ontem, na definição da federação que esses partidos estão
constituindo, com base na nova legislação eleitoral. Os entendimentos, porém,
continuam tensos em razão das disputas regionais. Os quatro partidos chegaram à
definição quanto ao comando da federação: os petistas ficarão com 27 dos 50
lugares da assembleia diretiva, enquanto o PSB ocupará 15 postos. PV e PCdoB
ocupariam quatro cada um.
O PT tem, hoje, 53 deputados; o PSB, 30; o
PCdoB, oito; e o PV, quatro. Para equilibrar a relação entre o PT e as demais
forças, já que o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem maioria
de assentos, as decisões seriam tomadas por maioria de dois terços e haveria um
rodízio no comando da Executiva, que seria formada por um presidente e três vices,
com um representante de cada partido.
Pela legislação vigente, as federações
terão que se manter durante quatro anos e serão verticalizadas, ou seja, se
reproduziriam em todas as unidades da Federação e teriam que valer para as
eleições municipais de 2024, o que é um problema a mais. Os partidos estão
enfrentando muitas dificuldades para conseguir reproduzir as federações em
nível estadual e terão ainda mais, em nível municipal.
Como a nova legislação está exigindo que os partidos formem federações até 1º de março, ou apresentem chapas competitivas nos estados até as convenções, em junho, esse calendário está sendo considerado esquizofrênico. Os partidos recorreram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que esse prazo seja prorrogado, de preferência até as convenções partidárias — ou seja, para depois da janela de transferência de partido, em março.
PT, PSB, PCdoB e PV, portanto, deram ontem
apenas um passo decisivo, porém ainda há muitas indefinições com a relação à
forma como as federações serão compostas nos estados. Além disso, Lula quer
ampliar as alianças do PT.
Hoje haverá uma reunião da Executiva do
PSDB para discutir uma eventual federação com o Cidadania. As negociações foram
iniciadas entre os presidentes das duas legendas, o ex-deputado Bruno Araujo
(PSDB) e o ex-deputado Roberto Freire (Cidadania), mas estão empacadas. A
Executiva do Cidadania também abriu negociações com o Podemos, o MDB e o PDT,
em razão do fato de que há grande resistência à federação com os tucanos em
estados importantes, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Bahia, Paraíba
e Pará.
Os maiores interessados na coligação com o
PSDB são as seções de São Paulo, Pernambuco, Espírito Santo e Rio Grande do
Sul. O fato de a candidatura do governador de São Paulo, João Doria, não
decolar está dificultando muito a federação entre o Cidadania e o PSDB. A maior
dificuldade é a definição de critérios para escolha de candidatos majoritários
e a formação de chapas proporcionais nos estados, respeitando o peso de cada
seção regional das legendas.
Diferenças locais
Essa complicação para a formação de
federações decorre das dimensões continentais do país e suas diferenças
regionais, reforçadas pelo caráter federativo do Estado brasileiro. A autonomia
relativa dos partidos nos estados vem desde a República Velha e sobreviveu na
Segunda República, que adotou o sistema proporcional de votação para o
Legislativo. Ao contrário do que muitos imaginam, esse sistema foi criado para
fortalecer os partidos, diante da tradição de voto uninominal herdada desde as
câmaras municipais do período colonial.
A tentativa de centralização e implantação
de um sistema bipartidário, ocorrida durante o regime militar — com a criação
por decreto da Arena, governista, e do MDB, o de oposição —, fracassou. Para evitar
a implosão da Arena, em razão das disputas locais, os militares até criaram as
sublegendas, que permitiam aos partidos apresentarem três candidatos para os
cargos majoritários, mas o expediente também deu errado.
A propósito, foi durante o regime militar
que a formação de uma grande frente política ocorreu, tendo como estuário o
MDB, que acolheu as principais forças de oposição. Naquela época, também se
imaginava a formação de uma frente de esquerda, mas o que vingou foi mesmo uma
ampla coalizão democrática liderada pelos liberais.
Depois de sucessivas vitórias eleitorais do
MDB, em 1974 e 1978, os militares desistiram do bipartidarismo e permitiram a
formação de novos partidos, com o intuito de dividir a oposição. O PT foi
criado nessa época, sob a liderança de Lula, juntamente com o PDT, encabeçado
por Leonel Brizola, que se elegeria governador do Rio de Janeiro em 1982.
O velho PTB havia sido refundado, sob
controle de Ivete Vargas, mas não representava mais a grande massa
sindicalizada. O MDB virou PMDB (era obrigatório ter partido no nome) e a
antiga Arena, desgastada tanto quanto os militares no poder, mudou o nome para
PDS (o atual PP). Mesmo assim, em 1985, formou-se uma ampla frente democrática
para eleger Tancredo Neves (PMDB) no colégio eleitoral, com o apoio de uma
dissidência da Arena e a oposição isolada do PT.
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