O Globo
Na última quinta-feira, a Petrobras
informou que registrou lucro líquido de R$ 44,561 bilhões no primeiro
trimestre. A companhia festejou um resultado 3.718,4% maior que no mesmo
período do ano passado. À noite, Jair Bolsonaro reagiu aos gritos: “Isso é um
crime! É inadmissível!”.
Em tom inflamado, o capitão acusou a
estatal de saciar sua “gula enorme” às custas do povo. “Petrobras, não aumente
mais o preço dos combustíveis! O lucro de vocês é um estupro!”, esbravejou.
Faltou dizer quem seria o estuprador.
Os aumentos da gasolina e do diesel têm
impacto direto sobre a inflação. Afetam o bolso do eleitor e a popularidade do
presidente-candidato. Por isso, seus principais concorrentes têm levado o tema
para o palanque.
No sábado, Lula acusou o governo de
“desmantelar” e “sucatear” a Petrobras. Sem citar os escândalos dos governos petistas,
criticou a “entrega” da BR Distribuidora e a privatização de gasodutos e
refinarias. “O resultado desse desmonte é que somos autossuficientes em
petróleo, mas pagamos por uma das gasolinas mais caras do mundo, cotada em
dólar, enquanto os brasileiros recebem os seus salários em real”, disse.
Menos diplomático, Ciro Gomes chamou Bolsonaro de “frouxo”, “canalha” e “vendido”. “O principal estuprador nessa história é ele, porque estupra o povo com preços altos e estupra a verdade dizendo que não tem culpa nesse crime hediondo”, disparou.
Desde o governo Michel Temer, a Petrobras
atrela seus preços ao mercado internacional. Os valores acompanham as cotações
do dólar e do barril do petróleo. A fórmula já fez o capitão colher os louros
da gasolina mais barata em 20 anos. Agora ele lida com a fúria de motoristas
obrigados a pagar mais de R$ 8 por litro.
A solução do problema não é simples, mas
Bolsonaro ilude o eleitor ao fingir estar de mãos atadas. A União é a acionista
controladora da Petrobras. Tem poderes para nomear e demitir o comando da
empresa. Se não quiser mudar a política de preços, pode criar subsídios ou
fundos de estabilização.
Diante de questões complexas, todo
presidente tem que fazer escolhas e contrariar interesses. Bolsonaro prefere
cruzar os braços e posar de comentarista do próprio governo. No monólogo de
quinta, ele disse que o nome da Petrobras iria “para a lama” se o diesel
voltasse a subir. Quatro dias depois, a empresa divulgou um novo reajuste de
8,87%.
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