Durante os
debates realizados, constatou-se, de maneira inequívoca, o aumento de
concentração da riqueza mundial nos últimos dois anos, desde o início da
pandemia, ampliando de maneira preocupante a distância entre os mais pobres e
os mais ricos do mundo, desnudando a insustentabilidade da sociedade
contemporânea.
Estamos vivendo
uma situação mundial de crises econômica, social e ambiental, a exemplo da
crise climática, do aumento da fome, do desemprego, ampliando de maneira
preocupante os impactos sociais, econômicos e ambientais da população mundial e
brasileira.
Coloca-se como
nunca o imperativo de defesa e ampliação da democracia como caminho de novas
relações políticas, econômicas e sociais a favor da vida e da preservação do
planeta. A possibilidade desta construção alternativa tem como fundamentos a
valorização de cada ser humano, do próprio planeta, colocando para esse século XXI,
de uma maneira inadiável, a superação das fragilidades dos nossos sistemas
político, econômico, social e ambiental no Brasil e no mundo.
Os aumentos de concentração da pobreza e da riqueza, nos últimos dois anos, anunciados na reunião de Davos, impõem uma necessária reflexão e ação individual e coletiva da sociedade brasileira e mundial sobre os desafios a serem enfrentados em uma perspectiva sustentável. Como nos colocamos? O que temos a dizer como sociedade brasileira e mundial?
Neste contexto,
no Brasil, o que anuncia o atual governo federal e as forças políticas que
construíram a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno
das eleições presidenciais? Qual é o espaço de participação efetiva da
sociedade e da cidadania neste processo.
Ainda, o que cabe
e o que não cabe na Agenda para a almejada sustentabilidade política,
econômica, social e ambiental brasileira?
As discussões e
as declarações de Davos deveriam considerar e apontar soluções para a superação
das crises política, econômica, social e militar internacional em função da
guerra Rússia-Ucrânia, que se arrasta por mais de um ano. A Ucrânia vem sendo
apoiada militarmente pelos Estados Unidos e a OTAN, sinalizando para uma guerra
de longa duração. São centenas de milhares de pessoas mortas, causando a
destruição de cidades, patrimônios naturais, culturais e materiais, ampliando as
crises política, econômica, social e ambiental da Europa, com reflexos preocupantes
a nível mundial.
As relações
conflituosas entre o Ocidente e o Oriente, os EUA e a Europa com a Rússia e a
China, a própria guerra Rússia-Ucrânia e dezenas de outros conflitos regionais,
assim como o anacrônico bloqueio a Cuba, refletem e colocam em evidência a
necessidade de um reordenamento do cenário político internacional, a ser
pautado pela multipolaridade, respeito à diversidade política, econômica,
cultural e espiritual da humanidade.
Portanto, a
atualização das agendas das organizações
multilaterais, a exemplo da ONU, FMI, Banco Mundial, OIT, são fundamentos na
perspectiva de resolução dos atuais problemas da humanidade: a exclusão de bilhões
de pessoas da vida política, econômica e social, o direito à vida, moradia,
alimentação, trabalho, renda, saúde, mobilidade; no caminho de uma agenda
propositiva que enfrente com a urgência diagnosticada em Davos, os problemas
econômicos, sociais e ambientais que excluem
uma boa parte da humanidade, e, ao mesmo tempo, ampliar ações, já
conhecidas há décadas, para a melhoria climática do planeta e a conservação dos seus ecossistemas, a exemplo
da Amazônia, cujo desmatamento acelerado, nos últimos anos, tem colaborado
para o aumento da temperatura regional e planetária.
E o day after
A reunião em
Davos realizou debates e fez declarações alarmantes e preocupantes: a taxação
da riqueza das grandes fortunas vai ser para valer, inclusive com a
concordância e a sinalização de alguns bilionários do mundo, segundo
informações do próprio Fórum, sem adesão de nenhum brasileiro. Como vai ser a gestão destes fundos bilionários?
Quais são as efetivas medidas mitigadoras a serem implementadas em prol da
sustentabilidade do planeta no caminho do enfrentamento da excludente realidade
econômica, social e ambiental de uma boa parte da humanidade, nos continentes
africano, asiático e na América.
Antes e além de
Davos, a sociedade mundial e nacional estão desafiadas ao enfrentamento dos
reais problemas cotidianos, de superação da nossa difícil realidade social,
econômica e ambiental que exclui a maioria da população das conquistas sociais
modernas. O cotidiano das ruas e das redes apresentam a tragédia social de
bilhões de pessoas em todo o planeta, excluídas do direito ao trabalho, alimentação,
moradia, saúde-saneamento, educação, cultura e mobilidade urbana.
A sustentabilidade como possibilidade
Há inadiáveis
demandas cotidianas a favor da cooperação, da solidariedade, da luta pela
igualdade, liberdade, fraternidade e na relação do ser humano com a própria
natureza – a casa de toda a humanidade. A realidade grita a favor dos
excluídos, nos agride com as cotidianas contradições econômicas e sociais da
sociedade contemporânea, desnudadas com a pandemia.
A ciência, aliada
ao conhecimento ancestral, de uma maneira diversa e complementar, são os
fundamentos e o caminho da sustentabilidade humana e planetária. São elementos
estratégicos para a sobrevivência do planeta e da própria humanidade.
Imprescindíveis, frente aos negacionismos e aos populismos, que constroem suas
realidades paralelas e se retroalimentam. Há espaço para as amplas avenidas da
democracia e da diversidade, no caminho de novas relações políticas, econômicas
e sociais, culturais e ambientais nos planos nacional e internacional, nos
blocos continentais e regionais existentes envolvendo países e organizações governamentais
e não governamentais, democratizando as relações internacionais em prol desta almejada
sustentabilidade mundial e nacional, tendo a democracia e a paz como
fundamentos estruturantes desta construção.
A tecelagem de
uma alternativa democrática às crises política, econômica, social a nível
internacional e em cada sociedade nacional é o desafio de trabalhar a unidade
das forças democráticas, dialogando com a cidadania, com o mundo do trabalho e
da cultura no caminho da sustentabilidade política, econômica, social e
ambiental almejada.
Assim, as opções
entre a democracia e a barbárie continuam postas nos desafios e dilemas
enfrentados atualmente pela sociedade brasileira e mundial. A questão democrática se impõe como um valor
para as sociedades nacionais e a nível mundial nas relações estabelecidas entre
a própria sociedade e com a natureza.
Estão na berlinda
as condições políticas, econômicas, sociais e culturais construídas desde a
primeira revolução industrial e a insustentabilidade da sociedade
contemporânea. A almejada sustentabilidade é um processo em curso e em disputa
no dia a dia da sociedade, no cotidiano de cada um de nós. A participação da
Cidadania é o fundamento desta sustentabilidade almejada e proclamada em Davos.
Portanto, o
futuro da Sociedade e da Democracia deve ser trabalhado com uma visão que nos
leve à almejada sustentabilidade da humanidade, modificando as atuais relações
políticas, econômicas e sociais nos planos nacional e internacional.
São desafios
históricos que continuam atuais na sociedade brasileira e mundial.
*Da Oficina da Cátedra da UNESCO em Sustentabilidade da UFBA e do Conselho do Instituto Politécnico da Bahia
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