Valor Econômico
Objetivo é a criação de regras de proteção
para trabalhadores de aplicativos, e a geração de empregos com direitos
trabalhistas
Num momento em que uma greve histórica
assombra políticos e empresários nos Estados Unidos, foi a trajetória de líder
sindicalista que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à agenda conjunta
com o presidente Joe Biden em Nova York, no dia 20, para a divulgação do
documento “Parceria pelos Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras”.
As metas são a criação de regras de proteção para trabalhadores de aplicativos, e a geração de empregos com direitos trabalhistas. Mas a quase um ano das eleições, quando buscará a reeleição, Biden está preocupado com a escalada do sindicalismo, que patrocina uma paralisação inédita de quase duas semanas.
Pela primeira vez, uma greve alcançou, de uma
vez, as três principais montadoras: GM, Stellantis e Ford. O UAW (United Auto
Workers), sindicato que representa quase 150 mil trabalhadores, exige um
aumento de 36%, segundo agências internacionais.
Biden apresenta-se como o presidente mais
“pró-sindicato” da história do país, mas não tem o apoio do UAW. Em
contrapartida, até hoje Lula é respeitado e tem diálogo com lideranças
sindicais americanas. Durante a prisão em Curitiba, ele recebeu a visita dos
americanos Richard Trumka, presidente do sindicato AFL-CIO, e Stanley Gacek,
ligado aos trabalhadores do comércio e indústria de alimentos.
É nessa conjuntura que Biden espera
capitalizar eleitoralmente com a fotografia ao lado de Lula em um ato de defesa
dos sindicatos e dos trabalhadores.
Ainda no ato com Biden, Lula invocou o
respeito ao “trabalho decente” - um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS). Essa pauta foi citada por Lula no discurso de abertura da
Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em tom de alerta: “a mais ampla e mais
ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento - a Agenda 2030 -
pode se transformar no seu maior fracasso”, advertiu. “A maior parte dos
objetivos de desenvolvimento sustentável caminha em ritmo lento”.
Em síntese, os 17 objetivos representam um
apelo global para acabar com a pobreza e a desigualdade, proteger o meio
ambiente e o clima, garantir a transição para a energia limpa, e que as
pessoas, em todos os lugares, tenham trabalho decente, e possam desfrutar de
paz e prosperidade.
É nesse contexto que, em paralelo à
assembleia da ONU, a vice-secretária-geral da entidade, Amina Mohammed,
coordenou a cúpula internacional dos ODS, na qual o ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macedo, representou o governo
brasileiro. Nesse palco, Macedo anunciou para uma plateia de chefes de Estado e
de governo a retomada da agenda de ODS - que havia sido extinta pela gestão
anterior - pelo atual governo.
À coluna, Macedo explicou que a renovação
desses compromissos resgata a credibilidade do Brasil nos palcos internacionais
e nos órgãos multilaterais. Acrescenta que isso viabilizará que a ONU entre em
campo como “facilitadora de investimentos” internacionais para a implementação
desses objetivos no Brasil. “Há vários fundos internacionais que podem investir
aqui”, citou.
Em 2024, o governo brasileiro voltará a
apresentar o relatório sobre a implementação dos 17 objetivos, algo que não
ocorre há seis anos. Nesse período, na ausência do Estado, organizações da
sociedade civil reuniram-se para apresentar o Relatório Luz da Agenda 2030.
A nova edição do documento foi divulgada
nesta segunda-feira, avaliando a evolução das metas em 2022, mas o resultado
foi desolador. O relatório apontou 102 metas (60,35%) em situação de
retrocesso, 14 (8,28%) ameaçadas, 16 (9,46%) estagnadas, 29 (17,1%) com
progresso insuficiente, apenas 3 (1,77%) com progresso satisfatório e 4 (2,36%)
sem dados suficientes para classificação, sendo que 1 (0,59%) não se aplica ao
Brasil.
“Tais dados refletem a trajetória de um ciclo
de destruição de políticas públicas, erosão dos orçamentos e de sistemas de
monitoramento essenciais para o alinhamento nacional à Agenda 2030”, diz o
Relatório Luz.
Nesse cenário, Macedo cita outro dos 17
objetivos - “parcerias e meios de implementação” - para afirmar que espera uma
ação conjunta entre governo, iniciativa privada e sociedade civil para
recuperar o tempo perdido. “Uma parte disso será liderada pelo setor
produtivo”, observou. Serão necessários investimentos para tocar obras de
infraestrutura e alavancar políticas para reduzir a pobreza, gerar emprego e
focar no desenvolvimento sustentável. Ele diz que o governo está fazendo sua
parte ao aprovar o arcabouço fiscal, apoiar a reforma tributária e criar o
“Desenrola” para melhorar a saúde financeira da população.
Outro dos 17 ODS é a “energia limpa e
acessível”. Nesse ponto, o ministro não vê os estudos em andamento para a
exploração de petróleo na foz do rio Amazonas como uma contradição a essa
agenda. Até porque se fala em “transição”. “Nenhum país do mundo vai abrir mão
de sua de sua autossuficiência energética e de utilizar os seus recursos
naturais para ter autonomia”, afirmou. “Mas isso tem que ser feito pela
legislação brasileira, com equilíbrio, com as compensações ambientais e a
prevenção de riscos”, ponderou.
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