O Globo
Fufuca entende tanto de políticas públicas
para o esporte quanto Sampaoli sobre o que fazer com os jogadores do Flamengo
num jogo de futebol. Sabe nada da pasta que ganhou. Sabe tudo do que quer.
André Fufuca, ministro do Esporte, está em
campo. Esteve até distribuindo medalhas, como se emendas Pix, na final da Copa
do Brasil. Está em campo e em todas, donde as entrevistas que tem dado — e que
o cronista coleciona.
É falador. Lula não se poderá vender por surpreendido no futuro. Pôs mais um juscelino-filho — mais um bocado de personificação do orçamento secreto — para dentro. Mais um representante de Arthur Lira no ministério, encarnação de uma cultura que prospera no Congresso. Expositor generoso da lógica lirista de ocupação do poder e das chances de o Planalto constituir base estável, via lirismo, no Parlamento.
Ao GLOBO, declarou:
— Não saberia lhe precisar [quantos dos
49 votos a bancada do PP garantiria ao governo] com correção, até porque é
uma questão mais pontual. Porém eu tenho como pensamento que o partido manterá
o apoio que vem mantendo.
O ministério que ganhou é concreto. O apoio
que assegura, um “pensamento”. Destaque à “questão mais pontual”:
— O partido manterá o apoio que vem mantendo.
Operação sui generis. O Planalto oferta
mais e mais terrenos em troca do que já tinha. Tinha nada. A velha “questão
mais pontual”, a da base de apoio episódica; aquela com que se comercia caso a
caso, projeto a projeto, emenda por emenda.
Questionado se estaria satisfeito com o
ministério que levou, disse:
— Eu acredito no potencial da pasta que a
gente está à frente (sic). Acho que o Ministério do Esporte tem uma
capilaridade muito forte. Tem uma entrega muito forte e, se houver apoios
necessários do Executivo, a gente tem como fazer um brilhante trabalho aqui.
“Capilaridade muito forte” e “entrega muito
forte”. Capilaridade é presença e alcance. A pasta tem potencial. A “entrega
muito forte” — o preenchimento dessa capilaridade — dependendo dos “apoios
necessários do Executivo”. Traduzo: orçamento crescente e fluente.
Fufuca é transparente. Entende tanto de
políticas públicas para o esporte — expressão da baixa qualidade técnica da
reforma ministerial — quanto Jorge Sampaoli sobre o que fazer com os jogadores
do Flamengo num jogo de futebol. Sabe nada da pasta que ganhou. Sabe tudo do
que quer — e poderia ser qualquer ministério (superfície):
– Nós temos projeto de ampliar secretarias.
Ter secretaria voltada ao empreendedorismo, ter diretoria voltada a questões
sociais, esporte, jogos. Temos um projeto amplo de fortalecimento e ampliação
do ministério que a gente espera ter a sensibilidade do Executivo para tornar
realidade. Tem essa construção. Estamos terminando de construir para passar o
mais rápido possível para o presidente da República.
Ampliar secretarias. Mais cargos. Mais área
de influência. Um “projeto amplo” para “ampliação do ministério”.
Muita escala. Um projeto de crescimento da pasta, só possível com a “sensibilidade
do Executivo”. O “fortalecimento”: grana. Na entrevista, Fufuca usa o verbo
construir seis vezes. Construir é ampliar; erguer. Não bastará ter
capilaridade. Tem de ocupar. Fisicamente.
Ao Estadão, cuidou do que seriam suas
prioridades:
— Sem sombra de dúvida, tentar democratizar o
espaço de qualidade do esporte. Temos um déficit absurdo de estrutura física de
esporte no Brasil inteiro.
Democratizar: construir. “Democratizar o
espaço de qualidade.” Tem de ser palpável e caprichado. As sobras do orçamento
secreto já se empenham para levantar “estrutura física” — uns estádios — no
Maranhão do ministro.
Como produzir esse “espaço de qualidade do
esporte”?
— Primeiro, entrega de orçamento. Para ter
estrutura, tem que ter orçamento. Então, a primeira coisa que a gente tem que
fazer é ter o apoio do Executivo e correr atrás de orçamento no Legislativo.
Isso a gente já está trabalhando para fazer.
Ora: “correr atrás de orçamento no
Legislativo” — e nem precisará correr tanto assim, o ex-líder do PP na Câmara —
é robustecer o ministério por meio de emendas parlamentares.
Há, porém, muita insatisfação sobre demora na
liberação de emendas. Qual o plano para reverter essa dificuldade?
— Primeiro, ampliar o setor responsável por
isso aqui. O setor de assessoria parlamentar que tem aqui e o setor que trata
de meta é muito deficitário. Tem pouco funcionário. A primeira coisa é
fortalecer isso para que a gente possa dar vazão. O ministério tem que ter
entrega, tem que ter obras rápidas. Você não pode ficar aguardando uma vida
para entregar uma obra.
Ampliar o setor, aumentar o corpo do
ministério, para dar vazão à demanda por dinheiros e responder ao “déficit
absurdo de estrutura física de esporte”. Construir. Ampliar. Fortalecer.
Entregar. Estruturas físicas. Obras. Obras rápidas.
Fufuca até poderá ser ministro de Estado um
dia. Hoje é lobista do lirismo — negociador (construtor) de espaços — dentro do
governo.
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