Folha de S. Paulo
Crescimento da massa salarial, comércio e
indústria ainda vão muito bem ou acelerando
A economia brasileira
não dá sinais de que perde ritmo —que esfria. Em alguns aspectos, a velocidade
de crescimento diminuiu, mas apenas de um passo que parecia talvez explosivo
para um andamento que continua muito quente.
É o que parece, a julgar pelos dados de agosto e setembro, os mais recentes das estatísticas oficiais. A soma dos rendimentos do trabalho ("massa salarial"), o crédito bancário e o número de pessoas empregadas vão muito bem, pelos números que IBGE e Banco Central divulgaram nesta semana. O ritmo de vendas do comércio, da produção industrial e do faturamento dos serviços continua forte, pelos dados até agosto (na comparação anual).
Considere-se o número de pessoas empregadas
no trimestre encerrado em setembro, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta
quinta. Cresceu 3,2%,
ante setembro de 2023. É o ritmo mais forte desde 2013 (o último
dado comparável), com exceção daqueles meses em que havia recuperação do nível
de emprego arrasado pela pandemia. São mais 3,2 milhões de pessoas com
trabalho.
A velocidade de crescimento do salário médio
diminuiu um pouco, para 3,7% ao ano, em termos reais (isto é, além da inflação).
Mas ainda é fortíssima, considerada a série histórica. A massa salarial
crescia, em setembro, 7,18% ao ano, em termos reais —trata-se aqui da soma de
todos os rendimentos do trabalho. Não cresce ao ritmo anual de 9,2% que se viu
em junho. Mas é um aumento que não via desde 2013 (de novo, descontada a
recuperação do fundo do poço da pandemia).
A esse aumento de renda se soma o crédito
concedido pelos bancos, em valores que ainda estão em aceleração (no acumulado
em 12 meses ante ano anterior). Nota-se
aceleração também na produção industrial e no comércio. Não é o que
acontece no setor de serviços, que, no entanto, se acomodou em ritmo razoável,
depois dos meses de crescimento explosivo depois da pandemia.
Há outras notícias interessantes no emprego.
Por exemplo, na taxa de participação na força de trabalho (percentual de
pessoas procurando emprego ou empregadas em relação às pessoas em idade de
trabalhar). Em 2023, essa taxa estava baixa, em termos históricos (desde 2012)
—havia mais gente fora do mercado de trabalho.
Em certos casos, pode ser uma explicação para
desemprego baixo. A depender de contexto, pode significar várias coisas, até
que pessoas não procuram emprego porque foram estudar. A taxa de participação
(62,4%) ainda é menor que nos anos logo antes da pandemia (um sinal de pobreza
e necessidade maiores daqueles tempos, talvez). Mas fica mais perto daquela dos
anos bons, para o emprego, de 2012 e 2013.
O percentual de pessoas empregadas em relação
ao total de pessoas em idade de trabalhar ("nível de ocupação") está
em patamar quase recorde, em 58,4% a um décimo dos 58,5% do final de 2013.
Alguém pode dizer que esses números de
emprego nos levam para a antessala de uma inflação derivada de salários.
Talvez. Não dá para dizer agora e nem apenas com esses dados. De resto, tais
especulações ou projeções andam muito furadas desde 2023, pelo menos —sabemos
pouco de alguns funcionamentos da economia brasileira recente. Esta nota serve
apenas para dizer que a atividade ainda está em nível notável, com uma inflação
longe da meta, mas não descontrolada e baixa para padrões brasileiros.
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