O Estado de S. Paulo
Assim como a Venezuela se isola no mundo, o PT se isola no Brasil
O presidente Lula virou “agente da CIA”? O
assessor internacional Celso Amorim é “mensageiro do imperialismo
norte-americano”? Essas acusações, feitas pela ditadura de Nicolás Maduro,
demonstram o grau de ridículo e até de loucura do próprio Maduro, que perdeu as
eleições, se autodeclarou vitorioso e continua destruindo a Venezuela,
corrompendo as instituições e provocando o maior êxodo de venezuelanos da
história.
Amorim combina duas posições amplamente conhecidas desde os dois primeiros mandatos de Lula, quando foi chanceler e atuou incisivamente a favor dos Brics, como resistência ao chamado “mundo unipolar”, ou seja, à hegemonia dos Estados Unidos. É (ou era?) não apenas o principal aliado brasileiro da Venezuela, desde Hugo Chávez, como também o maior crítico aos EUA. Mensageiro do imperialismo norteamericano? É patético.
A Venezuela deixou de ser uma questão
internacional para ser também um problema de política interna para Lula, que
foi imprudente e causou um horror generalizado ao receber Maduro com honras de
Estado – exceto no PT, que insiste no erro de defender Maduro, o regime e a
legalidade da eleição. Como cereja podre num bolo azedo, Lula ainda justificou
que “democracia é relativa”.
Maduro, além de tudo, é ingrato, muito
ingrato. Depois de todo o desgaste de Lula pelo apoio a ele, Maduro cospe todo
dia no prato que comeu. Ironiza Lula, ataca Amorim, chama o embaixador
venezuelano no Brasil “para consultas” e, ontem, seu governo publicou um cartaz
infame, com a imagem distorcida de Lula, a bandeira brasileira ao fundo e um
grito de guerra: “Quem mexe com a Venezuela se dá mal”.
E agora, PT? A ideologia, muitas vezes, cega
a direita e a esquerda, e o partido do presidente enxerga o óbvio: o governo da
Venezuela não é de esquerda, é depravado, insolente, corrupto, deteriorado...
Ser a favor de Maduro é ser contra a sociedade venezuelana e tão ridículo e
perigoso quando a Venezuela chamar Lula de agente da CIA e Amorim de mensageiro
do imperialismo.
Jair Bolsonaro errou na outra ponta, ao
romper com Caracas no seu mandato e prejudicar os setores privados e os
brasileiros com interesses no país, mas está mais fácil justificar o rompimento
do que qualquer proximidade com Maduro e Venezuela.
O PT está em pé de guerra pelo péssimo
resultado nas eleições municipais, a perda de rumo e de relevância e a falta de
perspectiva para o futuro, mas falta o principal: fazer mea-culpa por
sucessivos erros, como mensalão, petrolão, gestão Dilma Rousseff e
ideologização da política externa... Assim como Maduro se isola no mundo, o PT
se isola no Brasil.
Um comentário:
"E agora, PT? A ideologia, muitas vezes, cega a direita e a esquerda, e o partido do presidente enxerga o óbvio: o governo da Venezuela não é de esquerda..."
lamentável o papel que se presta parte da imprensa amiga e a maneira como tratam o seu leitor
depois ficam todos escandalizados com a polarização e a deterioração da esquerda como se nada tivessem a ver com ela
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