sábado, 12 de julho de 2025

Motta e Alcolumbre em cima do muro - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Ideia fixa é utilizar as emendas impositivas para financiar campanhas eleitorais

O Legislativo está na berlinda. Nos trends, como se diz. Pesquisa Atlas/Intel mostrou que só 3% dos brasileiros dizem confiar "muito" no Congresso; 63% revelam não ter "nenhuma" confiança; 27% confiam "pouco".

De fazer corar de vergonha, a crise de representatividade não é levada a sério. "Se chegar às 10h, será promulgado às 10h01", disse o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, sobre a possibilidade de Lula não sancionar o projeto de lei, criticado pela população, que aumenta o número de deputados. A frase saiu em tom ríspido e petulante, no mesmo dia em que a pesquisa foi divulgada.

A desconfiança tende a crescer mais. Até o fim do ano, o STF vai julgar o primeiro caso em que deputados poderão ser condenados por cobrar para destinar recursos a municípios. São réus por corrupção Josimar Maranhãozinho (PL-BA) e Pastor Gil (PL-BA). Envolvendo emendas, há um número espantoso de inquéritos no Supremo. Quase 90 parlamentares são investigados. A maioria pertence ao centrão, etiqueta que os torna uma entidade quase abstrata. Seus atos, no entanto, são de carne, osso e desonestidade.

Na terça (8), a PF deflagrou mais uma operação que mira desvios, resultando nos crimes de organização criminosa, captação ilícita de sufrágio, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica com fim eleitoral. Não falta, como de praxe, a benesse caseira: o principal investigado, Júnior Mano (PSB-CE), destinou R$ 18,8 milhões para Nova Russas; a mulher dele é a prefeita do município. Os parlamentares estão fazendo uso das emendas impositivas para financiar campanhas —o popular caixa dois. Encastelaram-se no poder.

Aparentemente não dão bola para o "nós contra eles" (a exceção é o presidente da Câmara, Hugo Motta, que perde a pose ao ouvir o apelido "Hugo Nem Se Importa"). E agora, diante da chantagem de Trump, Motta e Alcolumbre correram para ficar em cima do muro. A movimentação nas redes hoje ataca os privilégios. Amanhã deverá ser a corrupção no Congresso, tema mais incômodo e decisivo na hora do voto.

 

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