DEU NO VALOR ECONÔMICO
Difícil estabelecer um quadro clássico de vantagens e desvantagens que se evidenciam a cada escândalo de corrupção nos poderes constituídos a partir deste mais recente, o protagonizado pelo governador José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal. À primeira vista, tudo é negativo, e para todos. Nem o PT, maior adversário do grupo desnudado em praça pública nos últimos três dias, exposto em vísceras nas redes de TV, para todo o Brasil, tem razões para comemorar.
O mensalão candango do DEM, descoberto depois do mensalão mineiro do PSDB e do mensalão federal do PT, reaviva no partido do presidente Lula as lembranças de agonias políticas recentes. Exatamente em um momento que já julgava superada, totalmente, a fase aguda de sua redução moral, pois vinha entrando, com tudo, no esforço de reabilitação dos seus processados e seus dirigentes que comandaram o declínio.
Para a campanha presidencial do PT pode-se vislumbrar uma nuance apenas levemente positiva na perda do discurso oposicionista contra a corrupção, todos agora flagrados nas práticas condenadas, mas não se vê aí grande alívio, dado que este discurso, por inócuo, estava praticamente fadado ao ostracismo, não empolgava mais o eleitorado, como se viu em campanhas também recentes.
O DEM, óbvio, é o partido que mais perde, e o que já foi embora na lama é irrecuperável, sabe bem disso. Tem um único governador - por sua vez já eleito numa superação de escândalo por falta de decoro no Senado Federal - e um único Estado, o Distrito Federal, a que ligou seus principais políticos, formuladores, técnicos, ex-governadores, ex-prefeitos, ex-ministros. A vitrine administrativa do partido, o governo do Distrito Federal, fez água, como foi para o ralo, neste momento, a imagem do guerreiro contra a corrupção, contra a alta de impostos, contra a velha política dos coronéis, que seria agora superada por um partido renovado no nome e na liderança de jovens a quem foi entregue seu destino.
Arruda estava nesse grupo, o dos modernos do DEM, que para demonstrar autonomia e independência se deram ao luxo de rachar o partido, já pequeno, coadjuvante na aliança, em torno das duas hipóteses de candidatura do PSDB a Presidente da República, Aécio Neves (PSDB), o governador de Minas Gerais, e José Serra, o governador de São Paulo. É verdade que, por ser o dono do poder de que o partido desfrutava, Arruda parecia um tanto ambíguo nesta divisão, ora pendendo para um lado, ora para outro. Mas seu grupo fechou com um dos lados e seguia em frente.
Os candidatos do PSDB perdem muito com a neo-decadência do DEM. Formando com os tucanos a aliança que construirá a candidatura presidencial de oposição, o DEM deixa o PSDB sem condições de tirar do partido o candidato a vice, esta é uma dificuldade real, embora seja um assunto que, nos escalões decisórios desta campanha, passará a existir apenas depois de maio ou junho de 2010. Não que o vice fosse necessariamente o governador do Distrito Federal, que chegou a ser citado vez ou outra, ou que o partido fizesse questão de indicar o vice, mas qualquer um integrante da legenda terá sua biografia atrelada agora à rapidez e asserção com que a legenda providenciará a solução do caso. No momento, parece lenta a reação. Cassar direito de defesa a torto e a direito, não é o que se propõe, mas evidências tão gritantes às vezes sugerem processos políticos mais rápidos.
A questão central, porém, não é o vice, e nem mesmo a falta de um palanque para o candidato da oposição em Brasília, onde o popular Arruda se candidataria a uma reeleição que no momento parece condenada. O PSDB não tem a mais leve possibilidade de prescindir do DEM na sua aliança, pelo tempo de televisão do partido no horário eleitoral gratuito. Portanto, esta aliança não corre riscos, mas será mantida, nitidamente, por uma necessidade vital, como de resto é a aliança que o presidente Lula busca, para o PT, no PMDB. O Democratas, em sua nova fase de partido moderno, não poderia se imaginar nesta comparação.
Perde imensamente a política. O revés sofrido pelo DEM comprova que sair dos grotões, tentar uma sobrevivência política longe dos velhos coronéis para lançar âncoras no meio urbano, não é por si uma garantia de modernidade, probidade, ética, alta política. O que se vê, nos sucessivos últimos escândalos, todos urbanos e sem a liderança da viciada caciquia, é uma massa política amorfa, sob o império de comandos evangélicos, corporações, grileiros, estranhos em geral, que ainda não disseram qual é a sua, a não ser transformarem-se em artistas principais de vídeos gravados às escondidas para flagrar o farto recebimento de propina.
A evolução da política não melhorou a representação da sociedade, vítima maior e maior perdedora, sempre, da ação do político predador.
By the way
Difícil estabelecer um quadro clássico de vantagens e desvantagens que se evidenciam a cada escândalo de corrupção nos poderes constituídos a partir deste mais recente, o protagonizado pelo governador José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal. À primeira vista, tudo é negativo, e para todos. Nem o PT, maior adversário do grupo desnudado em praça pública nos últimos três dias, exposto em vísceras nas redes de TV, para todo o Brasil, tem razões para comemorar.
O mensalão candango do DEM, descoberto depois do mensalão mineiro do PSDB e do mensalão federal do PT, reaviva no partido do presidente Lula as lembranças de agonias políticas recentes. Exatamente em um momento que já julgava superada, totalmente, a fase aguda de sua redução moral, pois vinha entrando, com tudo, no esforço de reabilitação dos seus processados e seus dirigentes que comandaram o declínio.
Para a campanha presidencial do PT pode-se vislumbrar uma nuance apenas levemente positiva na perda do discurso oposicionista contra a corrupção, todos agora flagrados nas práticas condenadas, mas não se vê aí grande alívio, dado que este discurso, por inócuo, estava praticamente fadado ao ostracismo, não empolgava mais o eleitorado, como se viu em campanhas também recentes.
O DEM, óbvio, é o partido que mais perde, e o que já foi embora na lama é irrecuperável, sabe bem disso. Tem um único governador - por sua vez já eleito numa superação de escândalo por falta de decoro no Senado Federal - e um único Estado, o Distrito Federal, a que ligou seus principais políticos, formuladores, técnicos, ex-governadores, ex-prefeitos, ex-ministros. A vitrine administrativa do partido, o governo do Distrito Federal, fez água, como foi para o ralo, neste momento, a imagem do guerreiro contra a corrupção, contra a alta de impostos, contra a velha política dos coronéis, que seria agora superada por um partido renovado no nome e na liderança de jovens a quem foi entregue seu destino.
Arruda estava nesse grupo, o dos modernos do DEM, que para demonstrar autonomia e independência se deram ao luxo de rachar o partido, já pequeno, coadjuvante na aliança, em torno das duas hipóteses de candidatura do PSDB a Presidente da República, Aécio Neves (PSDB), o governador de Minas Gerais, e José Serra, o governador de São Paulo. É verdade que, por ser o dono do poder de que o partido desfrutava, Arruda parecia um tanto ambíguo nesta divisão, ora pendendo para um lado, ora para outro. Mas seu grupo fechou com um dos lados e seguia em frente.
Os candidatos do PSDB perdem muito com a neo-decadência do DEM. Formando com os tucanos a aliança que construirá a candidatura presidencial de oposição, o DEM deixa o PSDB sem condições de tirar do partido o candidato a vice, esta é uma dificuldade real, embora seja um assunto que, nos escalões decisórios desta campanha, passará a existir apenas depois de maio ou junho de 2010. Não que o vice fosse necessariamente o governador do Distrito Federal, que chegou a ser citado vez ou outra, ou que o partido fizesse questão de indicar o vice, mas qualquer um integrante da legenda terá sua biografia atrelada agora à rapidez e asserção com que a legenda providenciará a solução do caso. No momento, parece lenta a reação. Cassar direito de defesa a torto e a direito, não é o que se propõe, mas evidências tão gritantes às vezes sugerem processos políticos mais rápidos.
A questão central, porém, não é o vice, e nem mesmo a falta de um palanque para o candidato da oposição em Brasília, onde o popular Arruda se candidataria a uma reeleição que no momento parece condenada. O PSDB não tem a mais leve possibilidade de prescindir do DEM na sua aliança, pelo tempo de televisão do partido no horário eleitoral gratuito. Portanto, esta aliança não corre riscos, mas será mantida, nitidamente, por uma necessidade vital, como de resto é a aliança que o presidente Lula busca, para o PT, no PMDB. O Democratas, em sua nova fase de partido moderno, não poderia se imaginar nesta comparação.
Perde imensamente a política. O revés sofrido pelo DEM comprova que sair dos grotões, tentar uma sobrevivência política longe dos velhos coronéis para lançar âncoras no meio urbano, não é por si uma garantia de modernidade, probidade, ética, alta política. O que se vê, nos sucessivos últimos escândalos, todos urbanos e sem a liderança da viciada caciquia, é uma massa política amorfa, sob o império de comandos evangélicos, corporações, grileiros, estranhos em geral, que ainda não disseram qual é a sua, a não ser transformarem-se em artistas principais de vídeos gravados às escondidas para flagrar o farto recebimento de propina.
A evolução da política não melhorou a representação da sociedade, vítima maior e maior perdedora, sempre, da ação do político predador.
By the way
Provou-se mais uma vez acertada a decisão do governador José Serra de deixar para o ano que vem a definição e lançamento de sua candidatura, se por ela decidir. A ansiedade política não tem levado a absolutamente nada, a não ser à armação de arapucas.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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