O mau funcionamento das engrenagens vai mostrando que a estratégia da
política econômica do governo Dilma, de dar força ao consumo, está esgotada e
que o empuxo que vem do investimento continua insuficiente.
O pressuposto desta estratégia é o de que, para garantir o crescimento
econômico, basta estimular a demanda. Em havendo pujante mercado interno de
massa, a oferta viria atrás, como o mel no tempo das floradas.
As coisas não estão se comportando assim. Mesmo com incentivos ao crédito,
corte dos juros, desvalorização do real (alta do dólar), reduções de impostos,
desonerações da folha de pagamentos, forte aumento de salários e da renda,
robusta expansão do consumo e emprego recorde, a indústria está se desidratando.
Nas projeções do Banco Central, seu crescimento neste ano será negativo em
0,1%. Mesmo antes do início do último trimestre, dirigentes do setor repetem
que este é um ano "para esquecer".
O último Informe Conjuntural da Confederação Nacional da Indústria (CNI) faz
duras advertências ao governo. Avisa que "há limites ao modelo de
crescimento via consumo e à capacidade de políticas anticíclicas reativarem,
isoladamente, o dinamismo da economia".
A indústria não dá conta da oferta tanto por falta de investimentos quanto
por seguir atolada em custos. E, depois de ultrapassar mais da metade do
tamanho do PIB, o estoque de crédito esbarra em obstáculos intransponíveis.
Nada menos que 54% dos detentores de cartões de crédito estão enroscados no
crédito rotativo, onde os juros continuam escorchantes - como mostrou,
quinta-feira, matéria de Márcia de Chiara, no Estadão. Embora nos
financiamentos de veículos tenha cedido um pouco, aumenta o calote no crédito
às pessoas físicas.
O raquitismo dos investimentos foi, também, uma das principais preocupações
manifestadas pelo Banco Central em seu último Relatório de Inflação. O governo
federal parece ter entendido que a hora exige mais força ao investimento do
setor privado.
Mas, nesse particular, segue de breque de mão puxado. Anuncia novas
concessões de aeroportos, mas, em seguida, quer meter no negócio estatais que
não têm recursos. Avisa que reabrirá licitações na área do petróleo, mas impõe
condições desnecessárias, como a aprovação das regras de distribuição dos royalties
até mesmo para o pós-sal. Na área de energia elétrica, não mostra clareza no
marco regulatório, sempre sujeito a bloqueios judiciários. O setor do etanol
está prostrado porque o governo achatou os preços da gasolina. A Petrobrás está
atrasada no seu programa de investimentos por um punhado de razões, mas também
porque o governo faz política de preços à custa do seu caixa. O PAC, que
deveria empurrar todo o setor produtivo, faz água por atrasos e deficiências
gerenciais. E, em praticamente todos os setores, o governo não consegue
agilidade e decisão dos organismos encarregados de liberar licenças ambientais.
O próximo risco de fiasco a ser enfrentado pelo ministro da Fazenda, Guido
Mantega, é o de que, também no último trimestre deste ano, a economia não
alcançará a tal velocidade de cruzeiro de 4,0% ao ano. Para meados de 2013, o
Banco Central já não vê avanço superior a 3,3%. E pode vir a ser obrigado a
rebaixar esse número, como tem acontecido nos últimos dois anos.
Se quer crescer a 4% ao ano, a economia tem de garantir investimentos de 22%
do PIB. Por enquanto, não passa dos 18%, proporcionais ao pibinho que está aí.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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