Cármen Lúcia mandou um recado aos eleitores e
destacou que "a condenação não pode ser uma descrença" na atividade
pública
Mariângela Galucci, Ricardo Brito, Eduardo Bresciani e Felipe Recondo
BRASÍLIA - Ao votar a favor da condenação de políticos que receberam
dinheiro do esquema do mensalão, a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha passou
ontem um recado aos eleitores brasileiros, afirmando que eles não devem perder
a crença na política, principalmente às vésperas da eleição municipal.
Além de integrar o Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia é presidente
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, nesse cargo, comandará as eleições de
outubro. "Eu não gostaria que a dez dias de uma eleição o jovem brasileiro
desacreditasse da política por causa de erro de um ou de outro", afirmou.
A ministra ressaltou que "a política é necessária". Mas a
presidente do TSE reconheceu que "ela deve ser muito difícil". Para
Cármen Lúcia, não deve ser uma tarefa fácil fazer com que os 513 deputados
federais cheguem a consenso durante votações. "Um governo que não tenha
maioria parlamentar tende a não se sustentar", disse. "Ele cai",
afirmou a ministra, dizendo em seguida que, se não cair, pouca coisa será feita.
Cármen Lúcia defendeu a necessidade de os agentes públicos serem rigorosos
no cumprimento das leis. "Quem exerce um cargo político deve exercê-lo com
mais rigor", disse a ministra, acrescentando que, na opinião dela, existem
bons políticos no País.
"Meu voto não é absolutamente de desesperança na política. É a crença
nela e na necessidade de que todos nós agentes públicos nos conduzamos com mais
rigor no cumprimento das leis", afirmou. "A condenação não pode ser
uma descrença na política."
Política ou guerra. Cármen Lúcia ressaltou que o tribunal julga um processo
penal sobre pessoas acusadas de cometer erros. "A gente vota com tristeza
em um caso desse, mas tem que votar", afirmou. No entanto, ela fez questão
de frisar que isso não significa que os políticos sejam sempre corruptos.
"Este é um julgamento de direito penal em que nós julgamos pessoas que
eventualmente tenham errado e contrariado o direito penal. Mas que, obviamente,
isso não significa, principalmente para os jovens, que a política seja necessariamente
ou sempre corrupta. Pelo contrário: a humanidade chegou ao momento em que nós
chegamos porque é a política ou a guerra", afirmou.
A ministra ressaltou que um malefício no espaço público significa um furto à
sociedade. "Pela escola que não chega, pelo posto de saúde que não se tem,
pelo saneamento básico que tantas centenas de cidades brasileiras não têm,
exatamente pelo escoadouro dessas más práticas, dessas criminosas
práticas", exemplificou. "Principalmente se tem o furto da esperança
de uma sociedade", concluiu.
Cármen Lúcia está na presidência do TSE desde abril deste ano. Ao tomar
posse do cargo, ela apelou aos eleitores para que votassem com honestidade.
"O caminho mais curto para a Justiça é a conduta reta de cada um de nós,
cidadãos. O homem probo ainda é a maior garantia da Justiça na sociedade. A
eleição mais segura e honesta é aquela em que cada cidadão vota limpo",
declarou.
A ministra disse que os juízes fazem direito, mas não fazem milagres. Por
esse motivo, pediu ajuda dos eleitores e da imprensa na fiscalização. "Não
há eleições seguras e honestas sem a ação livre e vigilante da imprensa",
disse na ocasião.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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