Quem acompanha o cotidiano da economia já sabia que o Banco Central iria reduzir
novamente a previsão de crescimento. A queda foi para 1,6%. Em março, a
previsão era 3,5%, em junho, foi a 2,5%. Meses atrás, quando os economistas do
Credit Suisse divulgaram que seria 1,5%, o ministro Guido Mantega rebateu
dizendo que aquela projeção era uma piada. Antes fosse.
O quadro que sai do Relatório de Inflação é o de um crescimento murchando e
uma inflação subindo. O BC calcula que o IPCA será de 5,2%. E isso apesar do
fato de que o indicador deste ano foi favorecido pela mudança na estrutura de
ponderação do IBGE, que tirou quase meio ponto percentual do índice.
A economia recebeu um volume espantoso de estímulos. Foram cinco pontos
percentuais de queda da taxa Selic, desde setembro, e uma dezena de pacotes de
estímulos fiscais. Mesmo assim, o nível de atividade foi perdendo gás.
A situação internacional explica uma parte desse resultado, mas não tudo. A
Europa está em recessão; os Estados Unidos, rodando em torno de 2% de
crescimento; a Índia e a China estão crescendo menos. Mas a economia brasileira
é, principalmente, baseada no mercado interno. Por isso deveria ter tido um
resultado melhor.
O governo escolheu incentivar o consumo através da expansão do crédito e
ajudar setores com benefícios fiscais setoriais. Isso não funcionou para manter
o ritmo da economia. Depois de 2,7% de crescimento em 2011, o país vai se
contentar com 1,6% em 2012. A presidente Dilma Rousseff chegará ao meio do seu
mandato com um desempenho pífio para uma economia que sustenta ser
"desenvolvimentista".
Na previsão do próprio Relatório de Inflação, a crise econômica
internacional será longa. Portanto, o Brasil precisa se sustentar com suas
próprias políticas. A guinada recente para reformas mais estruturais, como a
proposta de investimento em logística e a mudança da cobrança da contribuição
patronal, está elevando a confiança do empresariado, provando que essa é a
forma mais eficiente de incentivo.
O relatório prevê para o ano que vem uma inflação em torno de 4,9%. Isso é
bom, mas é preciso considerar três pontos: nessa projeção está o efeito da
diminuição de 16% nos preços da conta de luz; o BC não incluiu a possibilidade
de um reajuste da gasolina; está considerando como "neutras" as
pressões inflacionárias externas. No último relatório, ele considerava que eram
"desinflacionárias", mas não foram. O petróleo subiu e algumas
commodities tiveram alta pela pressão da seca americana. O temor é que no ano
que vem, num cenário de maior crescimento, a inflação volte a subir.
Também é preciso levar em consideração a alta do dólar. Até agora, o repasse
da moeda americana para os preços tem sido menor justamente porque o PIB está
fraco. Há economistas prevendo que na medida em que o nível de atividade fique
mais forte, esse repasse também será intensificado. O Banco Central parece
trabalhar com uma piso no câmbio, na casa de R$ 2. Pelo menos tem feito
intervenções no mercado, com compra de moeda americana, toda vez que o real
volta a se valorizar. Todas as indicações do Ministério da Fazenda também vão
nessa direção.
Há cada vez mais dúvidas sobre se ainda estão de pé os três pilares da
política econômica que vinham sendo mantidos até aqui: câmbio flutuante, meta
de inflação, superávit primário. A ideia de uma faixa de flutuação para o dólar
está ficando mais evidente, e o BC parece perseguir uma meta de crescimento do
PIB, sem se importar que a inflação fique um pouco acima do centro.
Fonte: O Globo
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