domingo, 28 de outubro de 2012

O que está em jogo no 2º turno? - Fabiano Santos


Pela fria leitura dos números, como o segundo turno ocorre em só 50 municípios, nenhuma modificação relevante é de se esperar na posição relativa dos partidos quanto ao controle de cidades. Já dizia alguém, no entanto, que política não é aritmética, e há no pleito de hoje dois pontos relevantes sob uma perspectiva "propriamente política".

O primeiro diz respeito ao DEM. Espécie quase em extinção, os democratas têm em Salvador grande chance de sobrevida política. Uma boa gestão numa capital importante pode imprimir marca positiva no partido em seu conjunto, com efeitos multiplicadores no futuro. Pode também servir de balão de ensaio de políticas mais à direita do espectro, provando que agendas de perfil conservador são capazes de conjugar eficiência e inclusão.

Em geral, prefeitos de capitais e grandes cidades dependem menos do governo federal e têm, por isso, mais margem para o encaminhamento de programas alternativos de governo. Assim, o fato de o PSDB estar bem posicionado em capitais como Manaus e Teresina e cidades como Blumenau e Franca é significativo para a oposição.

O segundo ponto relevante -tirante a disputa em São Paulo, praticamente decidida - consiste na proliferação de casos nos quais dois importantes aliados históricos, PT e PSB, se enfrentam. João Pessoa, Fortaleza, Cuiabá e Campinas são os casos mais rumorosos de uma disputa até então inédita, de potencial fratura na coalizão de centro-esquerda comandada pelo PT desde 2002.

Uma avaliação ponderada do quadro impõe considerar, em primeiro lugar, que estamos falando de eleições locais, sendo muito mais complexa e plena de intermediações a viabilização de uma candidatura competitiva no plano nacional. Em segundo, e mais importante, é preciso averiguar até que ponto esses partidos defendem agendas em contraposição. Sabe-se que PT e PSDB, cada qual organizado em torno de coalizões específicas, ao se enfrentarem nos pleitos presidenciais, representam forças, ideias e interesses divergentes, o que não parece ainda ser o caso de PSB e PT.

Em suma, é cedo para uma perspectiva "propriamente política" do crescimento do PSB e de seus enfrentamentos com o PT. Até o momento, ainda estamos no puro campo da aritmética.

Professor e Pesquisador do Iesp-Uerj

Fonte: O Globo

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