Pela fria leitura dos números, como o segundo turno ocorre em só 50
municípios, nenhuma modificação relevante é de se esperar na posição relativa
dos partidos quanto ao controle de cidades. Já dizia alguém, no entanto, que
política não é aritmética, e há no pleito de hoje dois pontos relevantes sob
uma perspectiva "propriamente política".
O primeiro diz respeito ao DEM. Espécie quase em extinção, os democratas têm
em Salvador grande chance de sobrevida política. Uma boa gestão numa capital
importante pode imprimir marca positiva no partido em seu conjunto, com efeitos
multiplicadores no futuro. Pode também servir de balão de ensaio de políticas
mais à direita do espectro, provando que agendas de perfil conservador são
capazes de conjugar eficiência e inclusão.
Em geral, prefeitos de capitais e grandes cidades dependem menos do governo
federal e têm, por isso, mais margem para o encaminhamento de programas
alternativos de governo. Assim, o fato de o PSDB estar bem posicionado em
capitais como Manaus e Teresina e cidades como Blumenau e Franca é
significativo para a oposição.
O segundo ponto relevante -tirante a disputa em São Paulo, praticamente
decidida - consiste na proliferação de casos nos quais dois importantes aliados
históricos, PT e PSB, se enfrentam. João Pessoa, Fortaleza, Cuiabá e Campinas
são os casos mais rumorosos de uma disputa até então inédita, de potencial
fratura na coalizão de centro-esquerda comandada pelo PT desde 2002.
Uma avaliação ponderada do quadro impõe considerar, em primeiro lugar, que
estamos falando de eleições locais, sendo muito mais complexa e plena de
intermediações a viabilização de uma candidatura competitiva no plano nacional.
Em segundo, e mais importante, é preciso averiguar até que ponto esses partidos
defendem agendas em contraposição. Sabe-se que PT e PSDB, cada qual organizado
em torno de coalizões específicas, ao se enfrentarem nos pleitos presidenciais,
representam forças, ideias e interesses divergentes, o que não parece ainda ser
o caso de PSB e PT.
Em suma, é cedo para uma perspectiva "propriamente política" do
crescimento do PSB e de seus enfrentamentos com o PT. Até o momento, ainda
estamos no puro campo da aritmética.
Professor e Pesquisador do Iesp-Uerj
Fonte: O Globo
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