“Marina Silva queria uma zona de conforto no Partido Verde”
Presidente do PV diz que partido tinha viés mais conservador com a presença da ex-ministra e aposta em Gabeira para 2014
Pedro Venceslau
Antes de ser o político, José Luiz de França Penna foi roqueiro, ator e ativista indígena. Dos tempos alternativos dos anos 60 e 70, quando desembarcou em São Paulo vindo da Bahia, ele guarda até hoje as barbas longas e as ideias ambientalistas que marcaram sua trajetória no Partido Verde, do qual é o dirigente máximo desde 1999. Eleito deputado federal pela primeira vez em 2010, ele assumiu na semana passada à presidência da Comissão de Meio Ambiente da Câmara. Nessa entrevista ao BRASIL ECONÔMICO, o dirigente verde faz uma avaliação sincera dos efeitos da passagem de Marina Silva pela legenda e diz que sua saída foi boa.
O PV recebeu 19 milhões de votos em 2010 com Marina. Que sentimento ficou em relação à saída dela, que criticou muito sua atuação como dirigente do PV?
Há uma ótica errada. Dizem que somos presidencialistas, mas não somos. Nosso regime é formado por direções colegiadas. A direção nacional do PV fez um esforço muito grande em relação à Marina.
Que esforço foi esse?
Criamos até cláusula de consciência em relações a temas como aborto, drogas e homofobia para admiti-la. Se ela estivesse no partido quando estourou esse vulcão da Comissão de Direitos Humanos, por exemplo, estaríamos em uma situação delicada. Além disso, colocamos dez membros ligados a ela na executiva. Mas me atingir não é a política correta.
Quanto tempo faz que o sr. está na presidência do PV?
Desde 1999. Sou porta-voz do partido e disputo a cada dois anos nos congressos do partido.
Nunca houve uma chapa de oposição?
Houve sim. A crítica do grupo de Marina não procede. Fui chamado até de (Hosni) Mubarak (ex-presidente do Egito).
Marina queria o partido para ela?
Ela queria uma zona de conforto menos complicada que o Partido Verde. Essa é a real. Acho bom que ela tenha partido. Isso abriu a possibilidade de fazermos alianças menos conservadoras.
O PV sairá menor das urnas em 2014 sem Marina Silva?
Temos condições objetivas de conseguir bons resultados com a candidatura de Fernando Gabeira (à Presidência). As condições são boas para ele.
O Gabeira tem repetido que não será candidato...
O PV terá candidato e ele é o primeiro no nosso "personograma".
O PV terá candidato ao governo em todos os estados?
Pretendemos ter, mas não levaremos ninguém para o suicídio. Precisamos de uma boa bancada de deputados federais. Temos que ampliar nossa bancada significativamente.
O partido pode estar no palanque presidencial de Dilma, Aécio Neves ou Eduardo Campos em 2014?
Se em maio do ano que vem chegarmos à conclusão que não temos gás para uma candidatura própria, vamos examinar a possibilidade de fazer uma aliança. Vejo a alternância de poder como a questão fundamental da democracia e acho um avanço que hajam dois turnos. Precisamos matar qualquer gesto plebiscitário.
Então Dilma está descartada?
Sim. Com ela não há perspectiva de alternância de poder.
A Rede de Sustentabilidade, partido que a ex-ministra Marina Silva está tentando criar, será um concorrente para o Partido Verde?
Não temos essa visão. Nunca tivemos qualquer sonho de partido único. Acreditamos na alternância de poder. A justeza desse ideário será o tópico de várias organizações.
Não teme o esvaziamento do PV?
Não temos essa angústia. É uma boa contar com partidos com os quais possamos no aliar. Acreditamos no poder compartilhado. Não podemos esquecer que os conservadores da esquerda e da direita produziram barreiras preconceituosas para o Partido Verde. Tentaram nos levar para o campo do exótico e do inócuo. Depois que o Lula começou a usar o futebol para explicar tudo, nós éramos o Juventus. Era o time de todo mundo, mas ninguém ia ao jogo.
O que acha do PEN (Partido Ecológico Nacional)?
Nesse caso houve um traço oportunista. É um partido que nasceu para fazer frente ao PRB. Ele faz parte de uma disputa entre a Assembleia de Deus e Edir Macedo.
O deputado Alfredo Sirkis ainda está no PV, mas está empenhado em criar a Rede no Rio de Janeiro. Como está a relação do partido com ele?
Nós fomos extremamente generosos nesse embate. Passamos o microfone que seria dado ao partido no plenário da Câmara a ele. Mais generosidade do que isso é impossível.
Se a Rede não der certo, ele terá a legenda do PV para a eleição de 2014?
Seria desconfortável para ele. Você acaba de assumir a Comissão de Meio Ambiente da Câmara.
Qual a agenda da bancada ambientalista na Câmara para 2013?
A regulamentação e a aplicação do Código Florestal, que poderá ser um pouco mais para lá ou para cá. Criamos também um grupo de trabalho de apoio aos índios.
Tem muito ruralista no meio da Comissão de Meio Ambiente?
Está cheio. Isso é umhorror. O Brasil está quedado diante do agronegócio. Não existe contrapartida. O poder deles é ilimitado, especialmente depois que descobriram a força do Congresso. Na última eleição, eles se empenharam de maneira muito forte.
Fonte: Brasil Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário