Governo honesto aparece em 4º lugar, segundo estudo feito antes dos atos
Juliana Castro
Algumas das bandeiras levantadas nas manifestações que tomaram conta do país em junho aparecem como as principais prioridades de jovens brasileiros, de acordo com levantamento divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo foi feito em maio, antes da série de atos. O item mais citado pelos jovens foi educação de qualidade (85,2%), seguido pela melhoria dos serviços de saúde (82,7%). Essas são também as demandas mais citadas mundialmente.
O instituto considerou jovens aqueles com idade de 15 a 29 anos, assim como estabelece a Constituição. O Ipea, órgão vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, pediu para cada entrevistado escolher, entre 16 temas, seis que seriam prioritários. O método é o mesmo utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) na pesquisa My World, feita pela internet, cujo objetivo é subsidiar a definição das novas Metas do Milênio, a partir de 2015.
A terceira opção mais citada pelos jovens brasileiros foi o acesso a alimentos de qualidade (70,1%). Em quarto apareceu ter um governo honesto e atuante (63,5%), demanda que, em nível mundial, fica na quinta colocação. A melhoria nos transportes e estradas, citada por 40,9% dos jovens como uma prioridade, foi a demanda que deu início à série de protestos. No mundo, esse tópico é apenas a 15ª prioridade entre as 16 possibilidades.
Mudança climática em último
Na última colocação entre as principais demandas da juventude brasileira está o combate às mudanças climáticas, opção citada por apenas 7,3% dos entrevistados. Na lista internacional, essa demanda aparece na 12ª colocação. A pesquisa comparou as prioridades dos jovens com as dos não jovens. Para os que estão fora da faixa etária de 15 a 29 anos, a principal demanda é a melhoria dos serviços de saúde (86,6%). Em segundo, a educação de qualidade (80,5%). Ou seja, há uma inversão de prioridades em relação aos jovens.
- É normal essa inversão. Os jovens querem mais educação de qualidade, enquanto a pessoa que vai ficando mais velha pensa mais na questão da saúde - afirmou Marcelo Neri, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e presidente do Ipea.
A pesquisa mostra ainda que o número de jovens nunca foi e nem nunca será tão grande no país como agora: atualmente, o grupo é formado por 51 milhões de pessoas, o que corresponde a 26% da população brasileira. É um percentual próximo da média mundial.
- Fazer parte deste grupo tem vantagens e desvantagens. Esse grande número de jovens pode ajudar a diversificar e especializar a mão de obra do país, ajuda na interiorização da educação técnica e superior, mas, por outro lado, se não for expandido o número de vagas, esses jovens vão enfrentar o vestibular mais difícil de todos os tempos. Têm a vantagem de ser um grupo que vai ter poder de barganha, mas têm como desvantagem a concorrência no mercado de trabalho - disse Ricardo Paes de Barros, coordenador do estudo "Juventude levada em conta".
Segundo o Ipea, esse ápice no número de jovens no Brasil vai até 2022, quando o processo refluirá, e a população dessa faixa etária cairá a uma velocidade maior que a dos demais países. A expectativa é que o número de pessoas entre 15 e 29 anos decline em 15 milhões até 2050.
- O Brasil não está isolado neste fenômeno. Ele se destaca junto com a China - disse Neri.
Uma curiosidade é que, apesar de serem em números absolutos a maior população jovem já existente no Brasil, os pais dessas pessoas que hoje têm de 15 a 29 anos foram, proporcionalmente, a maior população jovem. Por conta da queda da mortalidade, o maior número de idosos, seja em números absolutos ou relativos, será alcançado pelos filhos de quem hoje está na faixa etária jovem.
O Ipea fez as entrevistas em domicílio com pouco mais de dez mil pessoas. A pesquisa faz parte de um amplo estudo que está sendo desenvolvido pelo governo, com análises sobre as áreas de demografia, Educação e mercado de trabalho em relação ao jovem.
Fonte: O Globo
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