Em entrevista ao Estado (27/7), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comentou a sua frustração com a implantação parcial do Plano Real e com a falta de continuidade nas reformas de que o País tanto precisava e continua precisando. "Ficaram pela metade." Referindo-se à reforma política, afirmou: "Eu tomei a decisão de não começar por ela, porque se começássemos por ela não sairíamos dali (....). Estamos pagando o preço pela falta da reforma política".
Ainda que se possa discordar do seu ponto de vista, há nele um raciocínio político no seu mais genuíno sentido: no âmbito do possível, estabelecer as prioridades de ação.
É o que falta à presidente Dilma. Ela completa agora 43 meses governando o País, faltando apenas 5 meses para o término do seu mandato. Nesse tempo de Palácio do Planalto, faltou-lhe definir, dentro do possível, as suas prioridades.
O que mais frustra no seu governo não são os erros pontuais - que abundam -, mas a inexistência de prioridades, de metas claras que confiram um sentido inteligível ao governo.
Esse cenário - que a distancia de qualquer presidente da República que deixou alguma marca positiva de seu governo - começou a ser delineado quando ela se esquivou de ponderar sobre o possível. As suas investidas - como a "faxina ética" de 2011, com a frenética troca de ministros - morreram na praia.
Não que, com audácia, ela almejasse ampliar as "fronteiras do possível". Seus erros têm sido, simplesmente, erros de cálculo. De não saber calcular as suas forças nem saber prever o percurso que queria e teria de fazer.
E isso a levou a ficar refém das circunstâncias, do curto prazo, em ações - para não falar dos discursos - que precisavam de explicações sobre explicações para que adquirissem uma remota aparência de sentido.
Se a presidente Dilma não soube avaliar o possível, muito menos poderia estabelecer prioridades. Contando com folgada maioria no Congresso e igual apoio da opinião pública, a presidente não patrocinou nenhuma das reformas essenciais ao desenvolvimento econômico, social e político do País. Perdeu-se em medidas pontuais, desconexas, cujo único objetivo geral era - como se viu com o passar do tempo - tentar dar sobrevida a um sistema esgotado, cujo relativo sucesso prévio baseava-se em circunstâncias já não mais existentes.
O seu fracasso não é só econômico. É um governo perdido e teimoso, incapaz de ouvir outro som além do eco da sua fala. O País paga diariamente um alto preço por isso. E não apenas no presente, já que a fatura dessa irresponsabilidade recairá também sobre o futuro. Quem sabe quanto tempo se levará para desfazer o imbróglio criado, por exemplo, no setor elétrico? Quanto tempo levará a indústria nacional para se reerguer?
A única estratégia do governo Dilma tem sido a da sua prorrogação por mais quatro anos e a do lulopetismo por tempo indeterminado. O resto é um governo que seria vazio, não fossem os efeitos deletérios da aplicação de sua falta de visão às estruturas política e produtiva do País. Um governo que não tem os pés no chão. Veja-se como reagiu às grandes manifestações de junho de 2013. Num passe de mágica, Dilma firmou - não se sabe com quem - cinco "pactos".
Na prática, era a simples enunciação de problemas nacionais óbvios - responsabilidade fiscal, reforma política, sistema de saúde, mobilidade urbana e educação -, mas sem qualquer sinalização de caminhos para enfrentá-los. Ficou sozinha com o seu discurso, sentindo-se incompreendida. Mas o que houve nesse caso - da mesma forma que nos outros - foi a sua falta de compreensão da política.
Não soube traçar, dentro do campo do possível, prioridades e trabalhar a sério nelas. Resultado: depois de uma semana, nem mesmo ela parecia se lembrar do que havia dito.
É esse (des)governo que chega à sua etapa final, com a economia em desagregação e um ambiente social de difuso, porém profundo, desagrado. O remédio para tais males, felizmente, são as urnas.
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