• Por força da recessão, índice de alta dos preços desacelera de forma intensa; Banco Central poderá cortar mais depressa a taxa de juros
Foram muitas as decepções com a economia ao longo deste ano, mas 2016 ao menos termina com uma boa notícia: a queda da inflação.
Em relatório trimestral publicado na quinta-feira (22), o Banco Central consignou que a atividade econômica mais fraca –a projeção de alta do PIB para 2017 encolheu de 1,3% para 0,8%– e o marasmo no setor industrial podem provocar uma desaceleração dos preços mais intensa do que se previa.
Com efeito, o indicador relativo aos 30 dias encerrados em meados de dezembro (o IPCA-15) subiu apenas 0,19%, a menor alta para o período desde 1998.
Além disso, a média de projeções de analistas privados para a inflação ao final deste ano diminuiu para 6,49%, pela primeira vez dentro do regime de metas –o teto é de 6,5%. Trata-se de um progresso notável quando se lembra que, em 2015, o índice de alta dos preços ficou em 10,6%.
Mais importante, segundo o relatório do Banco Central, reforçam-se os indícios de que a taxa chegará ao centro da meta (4,5%) no ano que vem. É que a pressão inflacionária diminuiu de forma generalizada também no setor de serviços, sempre o último a dar sinais de alívio nos preços por causa do fenômeno conhecido como indexação.
Trata-se de um dos resultados mais perversos do desleixo no combate à inflação verificado nos últimos anos: receosas, as pessoas passaram a dar muito mais peso para os índices passados do que para as expectativas futuras.
Reforçou-se o costume de fazer repasses automáticos de preços, uma tendência enfraquecida somente por uma desaceleração do PIB mais forte do que seria necessária em outras condições.
A recessão atual, dada sua profundidade, torna-se predominante nessa equação, com uma circunstância agravante que a distingue de episódios anteriores.
Desta vez, o setor privado enfrenta excesso de dívidas. Famílias e empresas buscam restaurar sua saúde financeira cortando gastos e guardando recursos. A retomada tende a ser mais lenta nesses casos, como o demonstra a experiência internacional.
Com esse pano de fundo, será mais fácil para a autoridade monetária agir de forma decisiva em prol da redução da Selic. Não é difícil que ela fique abaixo de 10% (5,5%, se descontada a inflação) em 2017.
A nossa taxa básica de juros, por inúmeros motivos, há muito figura entre as mais elevadas do mundo. Agora, isso pode começar a mudar. Mais do que pode, deve, já que as condições para isso raramente foram tão promissoras.
Passada essa fase, o desafio será sustentar os juros em níveis baixos. Para tanto, o país precisará perseverar no ajuste das contas públicas e retomar um programa de melhorias institucionais que, de forma paulatina, reduzam a indexação.
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