Por Fernando Taquari | Valor Econômico
SÃO PAULO - Discreto, dedicado, educado, leal, com hábitos simples e sem vaidades pessoais. Essas são algumas das qualidades que, segundo interlocutores de Geraldo Alckmin, fizeram do advogado Orlando de Assis Baptista Neto, mais conhecido como Orlandinho, o principal conselheiro e amigo do governador paulista. Cotado para concorrer à Presidência da República em 2018, o tucano tem muitos aliados fechados em torno de seu projeto, mas apoia-se em um seleto grupo de fiéis escudeiros para encerrar o mandato em alta, viabilizar-se no PSDB e construir sua candidatura ao Palácio do Planalto.
A aposta num círculo pequeno de confidentes faz parte do perfil do governador, considerado por aliados uma pessoa extremamente reservada que dificilmente externa seus pensamentos ou sentimentos às pessoas com as quais convive e que, como político, enxerga com desconfiança secretários, correligionários, admiradores e mesmo seguidores cujos interesses muitas vezes coincidem com os dele. O que não quer dizer que não os ouve. Até com a família, afirma um dirigente tucano, Alckmin é discreto, às vezes arredio, controlado na exibição de emoções e totalmente fechado quanto aos assuntos políticos.
Lotado no gabinete do governador, como assessor especial, Orlandinho é um dos poucos interlocutores com quem Alckmin conversa sobre suas angústias existenciais ou políticas, e a quem ele considera uma pessoa culta, desinteresseira, digna de inteira confiança e hábil no sentido de desempenhar tarefas. A confiança e o respeito entre eles, conforme frequentadores do Palácio dos Bandeirantes, também está assentada na despretensão política e econômica do assessor, que nunca concorreu a nenhum cargo público, e na fé inabalável de ambos no catolicismo. A exemplo do tucano, o advogado frequenta a missa toda semana.
A relação entre os dois remonta ao tempo em que o governador era deputado estadual, na época pelo PMDB, em 1983. Alckmin mantinha boas relações com o pai do assessor, um dentista e político de Caçapava, no interior paulista. Impressionado com o jeito educado e as opiniões ponderadas do assessor, decidiu convidá-lo para trabalhar ao seu lado na Assembleia Legislativa. Desde então, Orlandinho passou a assessorar o tucano em seus mandatos e cargos públicos, sempre atuando de forma diplomática e reservada.
A proximidade com Alckmin, arrisca um interlocutor, fez da sala do assessor a mais visitada do Palácio por secretários, deputados, prefeitos, vereadores e funcionários do governo interessados em conhecer o pensamento do governador sobre um assunto ou fazer chegar a ele uma opinião a respeito de um tema específico. Orlandinho também atua muitas vezes como porta-voz de Alckmin para antecipar a outros assessores que "o gato subiu no telhado", ou seja, que o governador está insatisfeito com o desempenho ou com um ato praticado por um subordinado.
Nas poucas vezes em que mencionou o discreto assessor, que não concede entrevistas, o tucano ressaltou seu compromisso com o trabalho, sua fluência em três idiomas (português, inglês e francês), fruto de experiências na Europa e Estados Unidos, e o modo simples de levar a vida. Formado em Direito pela Universidade de Brasília, Orlandinho costuma usar o transporte público para chegar à sede do governo. Dedicado e com enorme capacidade de trabalho, de acordo com um ex-secretário, é comum ver o advogado sozinho no Palácio aos sábados e domingos, trabalhando em alguma peça pedida pelo governador.
Entre outras tarefas, o assessor também costuma ser acionado para escrever ou corrigir textos e discursos. Apesar da amizade de longa data, não se pode dizer que haja intimidade entre os dois, segundo outro habitué do Palácio. A natureza reservada do governador e o temperamento obsequioso de Orlandinho, relata ele, não permitem que a relação seja descontraída como se espera de dois amigos que se conhecem há tanto tempo e que trabalham juntos há mais de 30 anos.
Outro importante conselheiro de Alckmin, este já uma tradicional figura pública, mas com menor influência e tempo de convivência, é o atual secretário estadual de Energia e Mineração, João Carlos Meirelles, vereador da capital paulista pelo Partido Democrata Cristão (PDC) entre 1964 e 1972 e conhecido agricultor, tendo presidido o Conselho Nacional da Pecuária de Corte na década de 1980.
Coordenador das campanhas do tucano ao governo do Estado em 2002 e à Presidência da República em 2006, Meirelles interrompeu a vida pública após a derrota do correligionário para Luiz Inácio Lula da Silva. Retomou, então, antigos negócios na área de agricultura e pecuária, cuja experiência herdada de família para abrir fronteiras agrícolas pelo país lhe valeu o convite em 1998 para assumir a Secretaria de Agricultura na administração do ex-colega de faculdade de Engenharia na Universidade de São Paulo (USP) e então governador Mário Covas, que tinha Alckmin como vice-governador.
Na ocasião, Meirelles e Alckmin já se conheciam, mas não tinham ainda uma relação de confiança que passariam ter a partir de então, mesmo com a passagem do secretário pela iniciativa privada em anos posteriores. O governador aprecia sua postura educada de falar e de se comportar. Considera-o bom orador, experiente e algumas vezes o ouve sobre determinados assuntos. Suas opiniões, contudo, têm peso relativo, confidenciam outros interlocutores, que ressalvam o respeito do tucano pela figura do companheiro, 18 anos mais velho. Meirelles, afirmam, com um bigode volumoso e um jeito aristocrata de vestir-se, falar e comportar-se, muitas vezes cria a impressão de uma ascensão que não dispõe sobre o governador.
Médico como Alckmin, o presidente do PSDB paulista, deputado estadual Pedro Tobias, é outro conselheiro que goza de credibilidade com o governador. Sua lealdade ao longo dos anos, sobretudo na campanha de 2008, quando assumiu de maneira ferrenha a defesa da candidatura do correligionário a prefeito de São Paulo, contra uma ala do partido ligada ao então governador José Serra que defendia a reeleição do então prefeito Gilberto Kassab, estreitou ainda mais a ligação entre ambos.
Tobias permaneceu como um fiel aliado após a derrota de Alckmin na eleição municipal, inclusive, o ajudou pouco tempo depois na mudança para os Estados Unidos, onde o tucano passou uma temporada de estudos. Não foi à toa que o deputado assumiu o diretório estadual pelas mãos de Alckmin, um ano depois que o governador recuperou o protagonismo interno no PSDB com a vitória na disputa estadual em 2010.
No cargo desde 2011, o Tobias tem desempenhado um papel de pacificador entre os grupos de Alckmin e Serra, já que também tem um bom trânsito com o atual chanceler. A sinceridade em falar o que pensa é vista com bons olhos pelo governador, relata um amigo de ambos, que ainda cita a admiração de Alckmin pela espiritualidade e o jeito jocoso do dirigente de contar histórias. Os encontros entre os dois são, principalmente sobre assuntos políticos, dadas as condições de Tobias de deputado e presidente do partido. Suas opiniões, entretanto, não pautam as ações do governador, acrescenta o amigo.
Em outro patamar, ainda estão atuais e antigos colaboradores das administrações do tucano, como Duarte Nogueira, prefeito eleito de Ribeirão Preto, Silvio Torres, deputado federal, secretário-geral do PSDB e principal articular de Alckmin em Brasília, e o secretário estadual de Governo, Saulo de Castro Abreu Filho. Edson Aparecido, ex-secretário da Casa Civil, perdeu um pouco de espaço ao ter um assessor de gabinete envolvido com máfia da merenda, investigada na Operação Alba Branca.
Além destes, outros dois que mais recentemente ganharam alguma influência junto a Alckmin são o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que comandava uma pasta na gestão tucana até o convite do presidente Michel Temer, e o prefeito eleito da capital paulista, João Doria, que passou aconselhá-lo politicamente.
Todos os entrevistados pelo Valor aceitaram atender a reportagem apenas em condição de anonimato. Por meio da assessoria do Palácio, Orlandinho disse que não atenderia o pedido de entrevista.
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