- Folha de S. Paulo
Os juros podem cair mais rápido do que se previa, afirmou nesta quarta (22) o Banco Central. Poder, sempre podem. Novidade é o BC conversar de modo tão claro a respeito de talhos maiores na Selic.
Era o que se dizia no texto em que o BC explicava a redução da taxa "básica" de juros de 13% para 12,25%, nesta quarta-feira.
O BC disse ainda que:
1) Dadas as projeções do "mercado", a redução da Selic para 9,5% ao fim do ano é compatível com inflação de 4,2% em 2017. Com juro em 9% ao fim de 2018, a inflação fica no centro da meta no ano que vem;
2) Os preços têm respondido aos juros altos e à recessão horrenda; a baixa dos preços da comida pode provocar um efeito cascata positivo na inflação.
A fim de colaborar no clima pré-carnavalesco de recuperação ainda invisível da economia, no início da noite desta quarta bancões anunciavam reduções em seus juros, algumas até significativas, como no caso de linhas para financiamento imobiliário.
Pode dar tudo errado, claro.
Pode haver um revertério na surpreendente calmaria das finanças internacionais. Há um Donald Trump solto pelo mundo.
Os planos de controle de gastos do governo a médio prazo podem ir para o vinagre, azedando as estimativas de inflação e juros mais baixos.
Trata-se de reforma da Previdência, a mudança maior à vista no ritmo de gastos federais. O BC continua a fazer campanha pelo ajuste fiscal.
Mas há tímidos brotos verdes por aí.
Onde o BC piscou para a possibilidade de acelerar a redução de juros? Neste trecho do comunicado:
"O Copom ressalta que uma possível intensificação do ritmo de flexibilização monetária dependerá da estimativa da extensão do ciclo, mas, também, da evolução da atividade econômica, dos demais fatores de risco e das projeções e expectativas de inflação".
Parece óbvio: se tudo correr bem, tudo deve ficar melhor. Mas é raro que BCs respondam de modo direto ao debate que está aberto entre observadores econômicos, mesmo os ditos mais "ortodoxos" ou "duros", o apelido que se dê: a redução dos juros deve ser acelerada?
Dado que o estrago da recessão foi maior do que o esperado, com reflexo inesperado (pelo "mercado") nos preços, seria o caso de o BC recuperar o tempo perdido, argumenta-se. Ou seja, baixar a Selic em mais de 0,75 ponto percentual, por vez, como se fez nas duas últimas reuniões.
A recessão ainda castiga, decerto. Não há como afirmar que a guerra tenha acabado, não chegou nem ainda a paz dos cemitérios da estagnação (crescimento perto de zero), embora seja razoável acreditar que a ruína pare de se espalhar neste primeiro trimestre. Ainda assim, será muito pouco.
A arrecadação do governo federal ainda cai, por exemplo, como se soube ontem. Nos últimos 12 meses, a receita diminuía ao ritmo real de mais de 5% quando se desconsideram receitas extraordinárias (impostos e multas da "repatriação").
Sim, a receita subiu em janeiro (ante janeiro de 2016), devido a um aumento de pagamentos de royalties de petróleo. No trimestre encerrado em janeiro, parou de cair, em relação ao mesmo período do ano passado. Mesmo sem repatriação. É um broto verde miúdo.
Estamos vivendo dessas migalhas de esperança. O risco de recaída é grande.
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