Seja qual for o resultado do segundo turno de suas eleições presidenciais, amanhã, a França não será a mesma. Pela primeira vez desde a inauguração da V República, em 1958, forças tradicionais da política não estarão no páreo. A disputa se dará entre o candidato independente do movimento En Marche! (Avante!), Emmanuel Macron, classificado como um centrista radical; e a presidente da Frente Nacional (FN), de extrema-direita, Marine Le Pen. Os dois derrotaram Benoit Hamon, do Partido Socialista; o republicano François Fillon; e JeanLuc Mélenchon, da extrema-esquerda, num apertado primeiro turno.
Analistas concordam que, se por um lado, Macron seria uma grande mudança para o establishment político francês, com suas propostas pró-UE e de austeridade fiscal, num sopro de vitalidade, é a candidata da FN, conhecida por seu nacionalismo xenófobo, que representa um risco real de ruptura, não apenas no âmbito da França, mas igualmente em relação à Europa e ao Ocidente tal como o concebemos hoje.
Uma vitória de Le Pen levaria ao Palácio do Eliseu uma líder que se opõe à integração global, tem uma relação umbilical com um partido neofacista, extremista e intolerante e cultiva vínculo com o presidente russo, Vladimir Putin. Em outras palavras, sua eleição representaria um abalo maior do que tiveram o Brexit e a vitória de Donald Trump nas eleições americanas.
Sua chegada ao poder poderia disparar o processo de dissolução da UE e de parcerias estratégicas, como a Otan, com um provável Frexit. As consequências disso também se refletiriam na economia, numa nova turbulência nos mercados internacionais, com efeitos a longo prazo nas taxas de câmbio e nas políticas comerciais, gerando protecionismo e colocando em risco a ameaçada integração global.
Para alívio dos eleitores de Macron e dos defensores da UE, as mais recentes pesquisas de opinião indicam que uma vitória de Le Pen é improvável. Macron mantém uma distância de 20 pontos percentuais às vésperas do segundo turno. Analistas também o viram como vencedor do debate eleitoral da última quarta-feira. Apesar disso, muitos alertam para o risco de uma confiança exagerada, devido à forte tendência à abstenção eleitoral, prevista para ser a mais alta da história eleitoral francesa.
A abstenção ganha embalo entre os eleitores que rejeitaram no primeiro turno os partidos convencionais, em meio a um mal-estar generalizado devido aos efeitos da crise econômica de 2008. Esta insatisfação impulsionou as candidaturas de outsiders como Le Pen, Macron e Mélenchon. Como os críticos de Macron no campo da esquerda o veem como um ex-banqueiro e membro da elite amarrado ao dogma neoliberal, ameaçam optar por uma perigosa abstenção (uma pesquisa indicou que 65% deles não votarão no centrista). Isto seria um grave erro, diante da ameaça neofascista.
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