Aliados revelam angústia com estratégia discreta da ex-senadora
Jeferson Ribeiro / O Globo
Dona de mais de 22 milhões de votos em 2014, a ex-senadora Marina Silva (Rede) vai enfrentar sua mais difícil campanha à Presidência na avaliação de aliados que têm mantido diálogo frequente com ela. Tempo menor de propaganda na TV, uma estrutura partidária mais frágil e ainda menos recursos para se financiar são as principais pedras no caminho. Um cenário que angustia quem acompanha a pré-candidata de perto, ainda mais porque seus aliados sabem que ela se manterá fiel ao estilo discreto de atrair eleitores.
Desde que anunciou sua pré-candidatura à Presidência, em dezembro, a exsenadora manteve regularidade nas redes sociais e concedeu entrevistas. Mas aqueles que esperam uma Marina mais ativa em busca de votos de eleitores do PT ou mais oportunista para ampliar seu capital eleitoral irão se frustrar.
— A Marina não é sensacionalista. E isso é bom. Ela não vai mudar a campanha por causa do que aconteceu com o Lula. A candidatura dela existe independente disso — disse ao GLOBO João Paulo Capobianco, um dos assessores mais próximos de Marina há décadas.
Um outro apoiador da ex-ministra, que, nas pesquisas varia entre o segundo e terceiro lugar, com até 16% das intenções de voto, fez avaliação parecida.
— Ela não faz pragmatismo eleitoral — disse esse aliado, sinalizando que esse atributo é uma qualidade.
O que para eles pode ser um bom atributo, nas redes sociais é interpretado muitas vezes como oportunismo. Na última quarta-feira, Marina postou no Twitter uma foto se apresentando como pré-candidata ressaltando que “não é investigada pela Lava-Jato”, foi “a senadora mais jovem da História”; teve “22 milhões de votos em 2014”, entre outras qualidades. Em resposta, vários usuários da plataforma a chamaram de “oportunista”, argumentando que ela só aparece de quatro em quatro anos.
Fiel a seu estilo, porém, Marina se recusa a agir como outros pré-candidatos já declarados, como Ciro Gomes (PDT), o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que têm percorrido o país nos últimos meses em busca de votos, mesmo antes da campanha começar. Com isso, ela aparece menos para o eleitorado. Os aliados argumentam que Marina não tem função pública que facilite sua inserção no noticiário.
— Ela não tem atitude de espalhar balões de ensaio ou produzir factoides. Eu, por exemplo, cobrei a ida dela a Mariana (cidade que foi destruída após o rompimento de uma barragem de minério de ferro em 2015). Ela disse que estava disposta, desde que recebesse um convite de alguma organização, de alguém, mas não iria até lá só para aparecer na cena e se beneficiar de um acidente daqueles por uma questão eleitoral — ilustrou Capobianco.
O deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) tem conversado constantemente com Marina. A pré-candidata não revela quem gostaria de ter como vice em sua chapa e também não pensa numa estratégia para atrair os votos de Lula. Miro descartou, porém, que ela tenha convidado os ex-ministros do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e Carlos Ayres Britto para compor sua chapa.
Miro acredita que a ex-senadora tem a força para mobilizar as pessoas e, com isso, driblar as dificuldades de financiamento e o pouco tempo de TV, mas alerta:
— Ela pode gerar essa campanha do boca a boca. Se esse movimento não surgir, ela perde.
MENOS DINHEIRO
A candidatura de Marina, diz Miro, é uma das poucas que poderão falar abertamente de corrupção sem precisar se explicar. Outro aliado de longa data, Bazileu Margarido diz que Marina pode não precisar modular seu discurso em relação à esquerda ou ao PT.
— Ela não prevê nenhuma mudança de atuação ou de discurso para atrair esse voto lulista — diz Margarido.
A Marina de sempre, porém, deve ter menos de 15 segundos por programa eleitoral se não fizer alianças com outros e um orçamento inicial bem menor do que o de 2014, que arrecadou, pelo PSB, R$ 66,2 milhões. Agora, considerando o Fundo Eleitoral, a ex-senadora terá cerca de R$ 5,3 milhões.
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