- O Estado de S.Paulo
A previsão correta do clima não é importante apenas para quem precisa sair com a roupa adequada. É, também, para os agricultores. Assim funciona com o câmbio. É importante não só para quem pretende viajar, mas, também, para quem põe dinheiro no comércio exterior, no mercado futuro ou em fundos multimercado.
Persiste indisfarçável insegurança quanto ao desempenho da economia brasileira. É o que leva empresas e pessoas físicas a buscar segurança. E digam o que disserem sobre Donald Trump e sobre os Estados Unidos, o dólar continua percebido como sendo bom porto seguro.
Quando pinta um clima de insegurança no Brasil, mais gente se agarra ao dólar. É o que explica a disparada das cotações da moeda estrangeira nas últimas semanas. Nesta quinta-feira, o dólar chegou a ultrapassar os R$ 4 no câmbio interno (Veja o gráfico). Foi revertido prontamente com baixa expressiva, mas mostrou aumento do azedume geral.
Há números reais puxando para o desalento. O crescimento econômico, por exemplo, vai decepcionando; em vez dos 3,5%, aponta para não mais que 1,71%. O desemprego alcança 13 milhões de trabalhadores e pode aumentar. Na quarta-feira, o Caged mostrou que 43,2 mil postos de trabalho formais (com carteira assinada) foram fechados apenas em março. A economia argentina vai engolindo água, fator que desperta a velha cisma de que, na condição de farinha do mesmo saco, o Brasil vai para a mesma fornada. E a reforma da Previdência só avança aos trancos, à mercê de um jogo político miúdo, movido por interesses corporativos. Qualquer tropeço nessa matéria detona o que nesta quinta-feira reconheceu, com alguma rima, o próprio Bolsonaro: “Se a reforma não passar, o caos vai se instalar”.
Até mesmo empresários que vivem se queixando de excessiva valorização do real (e são velhos puxadores de avanços nos preços da moeda estrangeira) sugerem que o Banco Central (BC) intervenha no mercado e venda dólares ou contratos amarrados ao dólar, para evitar a disparada excessiva (overshooting).
Ninguém deve exigir que o BC fique de fora. Mas a intervenção não é a primeira atitude a tomar. A própria flutuação das cotações deve ser entendida como defesa contra excessos, porque uma forte alta produz tração para desestimular novas compras. E a insegurança original que empurrou o aplicador para a retranca pode exigir uma reversão nessa atitude, na medida em que aumenta o risco de perdas com compras de moeda estrangeira. Trata-se aí de optar pelo menor entre dois riscos: o de perder com a paradeira ou o de perder por comprar dólar caro demais.
É verdade que o governo parece não estar se empenhando a fundo na aprovação da reforma. Mas é cedo para concluir que o precipício está logo aí. As contas externas continuam saudáveis, o que é a primeira razão técnica a desestimular a corrida para o dólar, porque há mais moeda estrangeira entrando do que saindo. E o mínimo que se pode dizer sobre a reforma é que alguma coisa acabará sendo decidida. Pode não emplacar o trilhão em economias pleiteado pelo ministro Paulo Guedes, mas deixará uma situação fiscal alguma coisa melhor do que é hoje.
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