A greve dos caminhoneiros de maio de 2018 durou 11 dias. Eles bloquearam estradas e impediram a circulação de itens essenciais, como alimentos, gás de cozinha e combustíveis. Serviços básicos, como transportes públicos, foram prejudicados.
A paralisação — que contou com o apoio do então deputado federal Jair Bolsonaro — levou à contração da economia em 3,34% naquele mês, derrubando ainda mais a reduzida taxa de crescimento do ano passado. A principal reivindicação da categoria era a redução do preço do diesel, que foi atendida pelo governo Michel Temer depois de o caos estar estabelecido, e danos irreversíveis causados.
Quem são esses agentes econômicos tão poderosos? Uma pesquisa recente da Confederação Nacional do Transporte demonstrou que são trabalhadores com renda mensal de menos de R$ 5 mil, trabalhando quase 12 horas por dia, chegando a rodar 9 mil quilômetros todo mês — o equivalente a contornar o litoral brasileiro de norte a sul. Quase todos são homens (mulheres não atingem 1% da categoria), com 20 anos de profissão e 45 anos de idade.
Assaltos e roubos são os maiores entraves à rotina, só comparáveis ao preço do combustível, afirmam. Dos que estão rodando neste ano, 65,3% dos caminhoneiros participaram da greve de 2018. A grande maioria (65%) dessa parcela disse ter sido mobilizada à greve por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp. O pior de tudo foi que 56% disseram que não ficaram satisfeitos com as conquistas da paralisação.
O fantasma da greve dos caminhoneiros voltou neste mês com a pressão da categoria contra o reajuste dos preços dos combustíveis, o que levou à crise aberta entre o presidente da República, o ministro da Economia e a direção da Petrobras. Depois de negociações conflituosas, governo e caminhoneiros anunciaram um acordo para evitar a deflagração da greve na semana que vem. Mas ficou a ameaça no ar: “Se quisermos, paramos o país”.
Não havia solução indolor para o embate. Se o governo não cedesse à pressão, poderia enfrentar uma greve como a de maio de 2018, com graves impactos para a atividade econômica, o emprego e a renda. Ao decidir ceder, optou pela saída de menor dano, mas com consequências imprevisíveis.
Os caminhoneiros reivindicaram ao governo liberal uma intervenção no mercado para o estabelecimento de um piso mínimo de frete, ou seja, da própria renda. Tal ação provocará aumento nos custos a setores diversos, como agricultura, indústria e comércio, causando danos na produtividade e na competitividade dos produtos para exportação.
O problema é que a trégua acertada com os caminhoneiros não poderá ser permanente. O governo respaldou que eles têm poder para impor custos à economia, como um verdadeiro cartel. E a ameaça de greve estará sempre na mesa, numa relação regida por um daqueles célebres ditos de para-choque de caminhão: a fortuna faz amigos; a desgraça prova se existem de fato.
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