A da Previdência é básica para destravar a economia, mas o custo do emprego precisa ser enfrentado
A economia não para de sinalizar que falta tração na retomada de crescimento esboçada no fim do ano passado. Os analistas do mercado financeiro junto aos quais o Banco Central recolhe projeções de indicadores, reunidas no Relatório Focus, chegaram a estimar, no fim de 2018, um crescimento para 2019 na faixa dos 2,5%. Hoje, a estimativa já se encontra abaixo de 2%, mais próxima de 1,5%, sem perspectiva palpável de melhoria.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, indicam que em março o saldo dos empregos formais foi reduzido em 43,1 mil vagas. Ou seja, voltaram a aumentar as demissões, e especialistas não relacionam este desemprego a qualquer sazonalidade. As empresas demitiram mesmo devido à situação ruim dos mercados.
A extinção de postos de trabalho ocorreu em 19 dos 27 estados da Federação. A indústria demitiu 3 mil; a construção civil, com grande capacidade de gerar empregos, mandou embora 7,8 mil. Na agropecuária também houve corte de folha de salários (9,5 mil).
Este cenário estatístico tem sido ilustrado por cenas da vida real, mostradas na TV, de multidões de desempregados em busca de alguma colocação. Milhares de pessoas, por exemplo, formaram filas que serpenteavam o Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, atraídas por um mutirão de triagem de currículos feito pelo Sindicato dos Comerciários.
Reforça-se, assim, o recado que a economia tem transmitido ao Congresso, para acelerar o máximo possível a aprovação da reforma da Previdência. Se ela não vier a ser desidratada, melhorarão as expectativas dos agentes econômicos diante do risco real de insolvência do Estado, e serão, enfim, tirados das gavetas investimentos pesados que dependem da confiança das empresas no futuro.
A rigor, a mensagem não se resume à Previdência. Há muito o que fazer também no campo trabalhista com a finalidade de reduzir o custo do empregado para as empresas, forma eficaz de se facilitarem contratações. Assim, será estabelecido um círculo virtuoso com a aprovação da reforma, a consequente volta dos investimentos e maior geração de postos de trabalho a custo mais baixo para o empregador.
A diminuição da carga tributária sobre a folha de pagamentos é um objetivo do ministro Paulo Guedes. É preciso facilitar a geração de empregos formais. Em um fórum em Lisboa, o economista José Roberto Afonso expôs dados preocupantes sobre o mercado de trabalho brasileiro. Dos trabalhadores, 60% são informais e, destes, só 48% contribuem para o INSS.
Isso significa que a estrutura de financiamento da seguridade pública brasileira está em risco. E que a carga tributária sobre o emprego precisa ter relevância na agenda do país.
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