- Folha de S. Paulo
Dodge afirmou que promiscuidade com milícias impede apuração isenta dos fatos
Em seu último dia como procuradora-geral, Raquel Dodge pediu oficialmente que a Polícia Federal assumisse a investigação sobre o assassinato de Marielle Franco. Para ela, a "relação de promiscuidade" entre as forças de segurança do Rio e as milícias impede que os mandantes do crime sejam descobertos.
"Existirão --com absoluta certeza-- atividades deletérias feitas por criminosos infiltrados na Polícia Civil e Militar do Rio [...] para dificultar a instrução e a coleta de provas", escreveu Dodge em documento enviado ao Superior Tribunal de Justiça no último 17 de setembro.
Trechos do despacho foram divulgados pelos jornais El País e Valor Econômico. A procuradora afirmou que a apuração do caso não deve continuar no Rio, onde há um "ambiente comprometido e desfavorável à apuração isenta dos fatos".
A investigação completa 600 dias sem que se saiba quem mandou matar a vereadora. Além de suspeitas de que policiais atrapalham a apuração, o caso ficou marcado por depoimentos falsos, sumiço de provas e evidências coletadas com atraso.
Só no último mês, surgiram três episódios escandalosos. No início de outubro, o UOL revelou que investigadores perderam "imagens relevantes" obtidas em câmeras de segurança no dia do crime. Eles tentaram recuperar a gravação, mas os arquivos não estavam mais disponíveis.
O rumoroso depoimento do porteiro do condomínio em que vivia Ronnie Lessa, acusado de ter cometido o assassinato, mostrou que a planilha que registrava o acesso ao local só foi recolhida pelos investigadores sete meses depois da prisão do suspeito. O material ficou esse tempo todo à disposição dos criminosos.
Para piorar, o Ministério Público fez uma perícia relâmpago no sistema de gravações da portaria, sem verificar se algum arquivo foi apagado.
Na sexta (1º), o ministro Sergio Moro disse que as investigações podem passar para a PF. "Considerando a demora de identificação dos mandantes e essas reiteradas tentativas de obstrução, talvez seja o caso."
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