O Globo
O pretexto era inaugurar uma estação de
trem em Parnamirim, no Rio Grande do Norte. O prefeito reduziu o expediente e
liberou os servidores para engrossar a claque. Jair Bolsonaro chegou ao
palanque montado num cavalo branco. Depois de ser adulado por três ministros,
entregou o microfone a um pastor evangélico. Seguiu-se um comício disfarçado de
culto, com transmissão ao vivo na TV Brasil.
“Vamos fazer uma oração especial pelo nosso
presidente. Levantemos nossas mãos para o céu em clamor a Deus”, ordenou Martim
Alves, da Assembleia de Deus. “Pedimos uma bênção muito especial para o
presidente da nossa República, pela sua saúde, seu governo e sua família”,
prosseguiu.
O bispo Lindomar Sousa, da Igreja Sara
Nossa Terra, assumiu o púlpito e continuou a pregação eleitoral. “Não é mais
uma briga da esquerda contra a direita, é uma guerra espiritual”, proclamou.
“Deus levantou a vida deste homem”, disse, referindo-se ao capitão.
O ministro Rogério Marinho já havia apelado ao discurso religioso para louvar o chefe. Candidato ao Senado, acusou a oposição de “espezinhar”, “maltratar” e “ridicularizar” a família brasileira. Em seguida, manifestou o desejo de silenciar os adversários. “Eles têm que escutar e ficar calados”, decretou.
Jair Messias inflamou o rebanho com um
grito de rodeio. Exaltou o “povo armado”, atacou os “vermelhos” e definiu a
Presidência como uma missão divina. “A luta, como disse o pastor agora há
pouco, não é da esquerda contra a direita, é do bem contra o mal”, bradou.
Na semana em que um escândalo de propinas
derrubou seu quarto ministro da Educação, ele descreveu a corrupção como um
problema de governos passados. Depois empilhou chavões sobre o “país
maravilhoso” e sua “gente trabalhadora”. Em 16 minutos de falatório, não disse
uma palavra sobre a obra usada como desculpa para o comício com dinheiro
público.
A performance deu uma amostra do Bolsonaro
que disputará a reeleição em outubro: um político sem pudor de explorar a fé e
usar a máquina em benefício próprio.
No dia seguinte, em Brasília, o capitão
começou e terminou um discurso citando o nome de Deus. Recheou o monólogo com
elogios à ditadura militar e ao deputado Daniel Silveira, que armou um circo
para descumprir decisão do Supremo. Ao defender o brucutu, voltou a insultar
ministros da Corte. “Cala a boca, bota a tua toga e fica sem encher o saco dos
outros”, decretou.
Liberou geral
Bolsonaro não é o único a subir no palanque
antes da hora. Nos últimos dias, Lula e João Doria também fizeram campanha antecipada
ao Planalto. Ninguém foi incomodado pelo TSE.
Na quarta-feira, o petista ironizou apelos
para que respeitasse a lei eleitoral. “Vim para cá pensando em colocar uma
mordaça, porque não ia poder falar. Mas o que eu estranho é que não se falou em
outra coisa aqui a não ser em eleição”, debochou, em ato na Uerj.
Na quinta, Doria usou a cerimônia de renúncia ao governo paulista para promover seu projeto pessoal. “Sim, serei candidato à Presidência da República pelo PSDB”, propagandeou, em pleno Palácio dos Bandeirantes.
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