O Estado de S. Paulo
Demanda há, mas as lideranças políticas são
incapazes de oferecer o produto terceira via
As pesquisas que aproximam Jair Bolsonaro de Lula dispararam um senso de urgência na esburacada
terceira via e a pressa é inimiga da perfeição. Os caras amanhecem candidatos,
deixam de ser com o sol quente e voltam a ser ao entardecer; estão num partido
num dia, em outro no dia seguinte e sabe-se lá onde no terceiro dia. Fazem que
vão, mas não vão a lugar nenhum.
Na estratégia da terceira via, a vaga de Lula no segundo turno era líquida e certa e a saída era desbancar Bolsonaro, que perdia fôlego entre empresários, militares e multidões que votaram nele contra o PT e deram com os burros n’água. A coisa não evoluiu bem assim.
Lula tem base sólida, mas bateu no teto e daí é mais fácil descer do que subir. Já Bolsonaro saiu do fundo do poço e recuperou condições de competitividade. O resultado é quase psicológico: quem está por cima e perde dois pontinhos passa a sensação de “fraqueza”, quem está por baixo e sobe dois pontinhos passa a de “força”. Eleição não é razão, é emoção.
O principal movimento de Lula foi usar o
ex-tucano Geraldo Alckmin para abrir espaço
e pretexto para partidos, líderes e eleitores do centro e da centro-direita,
mas Bolsonaro foi além: desmanchou a percepção de que o Centrão pularia do seu barco na primeira gota d’água.
O Centrão está mais firme com Bolsonaro do que o centro com Lula.
Começou com o grito de guerra de Ciro Nogueira (do PP e da Casa Civil) a
favor do chefe e se consolidou na janela partidária: PL, PP e Republicanos
fizeram a festa, acabaram com a alegria do União Brasil (DEM-PSL) e,
assim, Bolsonaro tem a maior força política no Congresso.
Essa base reflete o enraizamento dele nos
Estados, projeta boas condições de governabilidade em caso de reeleição e tem
um efeito psicológico sobre políticos e eleitores. Ex-bolsonaristas e os que
estão em cima do muro balançam a favor dele, os milhões que o rejeitam
mergulham no desânimo e no pânico.
O PSDB desmorona como castelo de cartas,
com João Doria e Eduardo Leite inviabilizando um
ao outro; a onda Sérgio Moro morreu na praia; o
Podemos já não pode nada; o União Brasil às turras já na lua de mel de DEM e
PSL; o MDB apoia Simone Tebet em “on”, mas em
“off”... O Cidadania? Tenta colar os cacos. Seria uma palhaçada, não fosse uma
tragédia.
Os adversários deveriam ser Bolsonaro e Lula, nessa ordem, mas o centro gasta tempo, dinheiro e saliva falando uma coisa, fazendo outra: da boca para fora, união; na realidade, a mais patética desunião. Há uma desesperada demanda pela terceira via no eleitorado, mas as lideranças políticas são incapazes de oferecer o produto.
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