Correio Braziliense / Estado de Minas
Com sua filiação ao PL, a
legenda saltou de 43 para 75 deputados; o PP, de 42 para 59; e o Republicanos,
ligado ao bispo Edir Macedo, saltou de 31 para 46 deputados
O jurista Norberto Bobbio dizia que os
governos, mesmo os “maus governos”, são a forma mais concentrada de poder,
porque arrecadam, normatizam e coagem. Por isso, não se deve subestimar sua
capacidade de agregação de forças políticas e sociais, atender interesses e
cooptar apoios.
Nas democracias, o “autogoverno do povo” é
um mito, mesmo nas revoluções clássicas (inglesa, francesa, americana e russa).
No Brasil, todas as “revoluções” vitoriosas foram golpes de Estado
bem-sucedidos — incluindo a Revolução de 1930, que inaugurou a nossa
“modernização conservadora”.
Entretanto, com a urna eletrônica e as eleições diretas para os cargos do Executivo — presidente da República, governadores e prefeitos —, o protagonismo popular é absoluto no momento do voto. Mesmo durante o regime militar, sem eleições diretas para presidente, governadores e prefeitos das capitais, o voto popular foi decisivo para a derrota daquela ditadura. Vem daí o imponderável nas eleições brasileiras, que alterna o imprevisível (vitórias de Collor de Mello, em 1982; Fernando Henrique Cardoso, em 1994; Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002; e Jair Bolsonaro, em 2018) e o previsível (a reeleição de FHC, em 1998, e de Lula, em 2006). A eleição de Dilma Rousseff, em 2010, e sua reeleição, em 2014, estavam no terreno da previsibilidade.
Voltando à teoria dos governos de Bobbio,
quem governa é sempre uma minoria ou alguns grupos minoritários em concorrência
entre si, que tomam decisões que atingem a todos. As classes políticas “se
impõem” ou “se propõem”. Minorias organizadas e resolutas acabam controlando o
poder e suas decisões. Hoje, vivemos uma contradição entre o chamado “espírito
das leis” — ou seja, a ideia de que somos uma democracia ampliada e regulada
pela Constituição de 1988 — e a forma como Bolsonaro governa.
De viés bonapartista, o atual presidente
nunca fez a menor questão de governar para a toda a sociedade. Governa para os
seus, como a bíblica recomendação a Matheus. Os exemplos estão em toda parte,
com destaque à educação, à cultura, ao meio ambiente e à segurança pública.
Quando desmobilizou sua tropa de assalto, a
extrema-direita que embalou sua campanha eleitoral, ancorou sua capacidade de
governança na forte presença de militares na administração e, para garantir a
governabilidade, entregou o Orçamento da União e uma parte do governo aos
políticos do Centrão. Aos trancos e barrancos, até agora isso deu certo. O
único momento em que fracassou foi durante a pandemia de covid-19.
Quem ganhou e quem perdeu
Entretanto, Bolsonaro foi obrigado a recuar
de seus propósitos autoritários toda vez em que ameaçou atravessar a Praça dos
Três Poderes, principalmente em direção ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Esbarrou na resistência dos ministros da Corte, que sempre se uniram nesses
casos, e na ampla mobilização da sociedade civil, que vai além dos partidos de
oposição. Existe uma distância entre as ideias autoritárias do atual
presidente, reiteradas no último dia 31, ao defender o regime militar, e sua
capacidade efetiva de pô-las em prática, imposta pela atuação das forças
democráticas.
Mas isso não significa que tenha desistido.
Seu projeto político é uma “democracia iliberal”, sem programa de governo, a
não ser a supremacia do Executivo e um mal desenhado “Brasil grande”, pois
ignora os problemas reais e as verdadeiras prioridades da população. Entretanto,
esse projeto não será derrotado por antecipação.
O troca-troca de partidos durante a janela
partidária mostra que Bolsonaro recuperou expectativa de poder e plena
viabilidade eleitoral. Com sua filiação ao PL, a legenda saltou de 43 para 75
deputados; o PP, do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PI), de 42 para 59;
o Republicanos, do deputado Marcos Pereira (SP), ligado ao bispo Edir Macedo,
saltou de 31 para 46 deputados. Os partidos do Centrão podem até abandoná-lo,
se perder a eleição e, por ora, não é o caso.
Lula continua sendo o favorito nas
pesquisas de opinião, mas a distância para Bolsonaro encurtou. Na federação que
o apoia, a bancada do PT na Câmara passou de 53 a 55 deputados e a do PV, de
quatro para três. A do PCdoB foi outra que caiu — de oito para sete. O PSB,
mesmo filiando Geraldo Alckmin, que será seu vice, passou de 30 para 21
deputados.
Os partidos da chamada “terceira via” também sofreram baixas:; o PDT de Ciro Gomes, encolheu de 25 para 19 deputados; o PSDB, de João Doria e Eduardo Leite, de 31 para 25, compensados pela federação com o Cidadania, cuja bancada caiu de oito para seis deputados; o MDB, de Simone Tebet, de 34 para 33 deputados. O Podemos teve a bancada reduzida de 11 para nove deputados, além de perder Sergio Moro para a União Brasil, que teve as maiores perdas: dos 81 deputados da fusão entre PSL e DEM, restaram 45. Esses números refletem as dificuldades para romper a polarização Lula x Bolsonaro.
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