O Estado de S. Paulo
Lula diz que, se eleito, não fará um
governo ‘requentado’; Dirceu atua nos bastidores e briga no PT corre solta
Era fim de abril de 2006 quando Geraldo Alckmin, então candidato à
Presidência, entrou em um voo de Brasília para São Paulo. Bastou sentar na
poltrona para ouvir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
seu adversário naquela campanha, ironizava as brigas no ninho tucano e dizia
que o PT era um partido “tranquilo”, se comparado ao PSDB e ao MDB.
“Você sabe qual é o salto mais alto de sapato?”, perguntou Alckmin à repórter que estava no avião. “Acho que é o 15, governador”, informou a entrevistadora, sem muita convicção. Geraldo, como é chamado pelos correligionários, abriu um sorriso. Pensou um pouco e respondeu, pausadamente. “O presidente está usando salto número 15, mas eu vou para a campanha com as sandálias da humildade. E vou virar o jogo”, retrucou. A repórter, no caso, era eu.
Dezesseis anos depois, o “Sobrenatural de
Almeida” entrou em cena e no jogo, como diria Nelson Rodrigues. Alckmin não só
deixou o PSDB após mais de três décadas de filiação como será vice de Lula, que
tanto criticou, pelo PSB. Os dois têm divergências históricas sobre temas que
vão da privatização à reforma trabalhista, mas o ex-governador parece disposto
a dar uma guinada no discurso. Que o diga Persio Arida, que coordenou o programa econômico de
Alckmin, em 2018, e agora troca figurinha com a equipe de Lula.
Diante de sinais enviesados sobre como
seria a política econômica pós-Jair Bolsonaro, Lula também tem
conversado com empresários e banqueiros. A portas fechadas, o ex-presidente diz
que, se eleito, não fará um governo “requentado”. Mas quer aproveitar
ex-governadores no Ministério, como Rui Costa – que terá deixado a
administração da Bahia –, Flávio Dino, Wellington Dias e Renan Filho, além do próprio Alckmin. Nesse
gabinete, o ex-tucano não seria um vice decorativo.
Na noite de segunda-feira, Gleisi Hoffmann, que comanda o PT,
também se reuniu com empresários e integrantes do mercado financeiro. No
cardápio, os planos do partido para o Banco Central, Petrobras e Eletrobras. O
senador Jean Paul Prates, do PT, sugeriu a
Lula a fusão das duas empresas, mas a proposta enfrenta resistências.
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu atua nos bastidores.
Nos encontros com executivos, defende “um novo pacto pelo desenvolvimento”.
Costuma perguntar, ainda, que país tem regra de ouro, teto de gastos e paga
juros como no Brasil.
Condenado a 40 anos de prisão pela Lava Jato, Dirceu é alvo de ataque do grupo de Gleisi. Enquanto Lula tenta montar uma frente ampla para derrotar o bolsonarismo, a briga no PT corre solta. Resta saber se, nesta campanha, o salto ainda é o 15 ou subiu um pouco mais.
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