O Globo
A janela partidária se fechou e o saldo da
movimentação de deputados para lá e para cá foi amplamente favorável aos
partidos do Orçamento secreto, e, consequentemente, a Jair Bolsonaro, que
patrocina esta que é a principal moeda da eleição de 2022.
O inchaço do PL mostra que, daqui até
outubro, vale a pena estar no mesmo barco que Bolsonaro, a despeito de todas as
imposturas do seu governo.
Também não importa tanto se o presidente
será ou não reeleito. O objetivo é usar o combustível extra conseguido agora
para repetir ou aumentar a bancada de 43 deputados e, assim, o acesso a uma
fatia polpuda dos fundos partidário e eleitoral.
Acontece que o presidente se beneficia
desse inchaço induzido da sigla que escolheu na undécima hora e quase por
exclusão. Esse exército será importante na montagem da máquina de pedir votos
Brasil afora.
Portanto, depois que a janela se fechou,
ficou de cara mais difícil tirar Bolsonaro do segundo turno. Para isso, aliás,
contribui a falta de cara e projeto da pretensa terceira via, tema da minha
coluna mais recente.
Lula é alguém que conhece como poucos a
engrenagem de uma campanha. Sabe o peso de se disputar no cargo, de programas
de transferência de renda como o Auxílio Brasil e o vale-gás e desse trabalho
de formiguinha nos palanques regionais. Conclui que a cada dia que passa vai se
consolidando, tudo mais constante, a probabilidade de enfrentar Bolsonaro no
segundo turno.
É por isso que ele quer apressar a confirmação da chapa com Geraldo Alckmin, de modo a evitar que a insatisfação de uma ala do PT com a chegada do ex-tucano ao barco crie ruído desnecessário num momento em que as pesquisas mostram um estreitamento da sua diferença para o presidente não só na espontânea e no primeiro turno, mas também na “final”.
Lula sabe que Bolsonaro acertou a máquina
de buscar voto. Os obstáculos à frente vêm da economia e da capacidade
ilimitada do capitão de criar instabilidade institucional.
Essa segunda característica é a razão pela
qual o petista passará a bater na tecla de que a disputa de outubro se dará
entre o campo que respeita a democracia e aquele que a ameaça.
Vejam que a equação nem leva em conta a
possibilidade de uma outra candidatura vicejar. (Aliás, não é papel de Lula
contar com algo que os próprios interessados tiveram quatro anos para construir
e não conseguem fazer avançar alguns passos sequer.)
Ao estender um tapete para o ex-adversário
Alckmin, Lula busca atrair votos entre aqueles que até são antipetistas ou têm
severas críticas ao PT, mas reconhecem o risco de ruptura institucional que
Bolsonaro representa — que certamente será maior ainda caso ele, tendo feito
tudo o que fez no poder, se reeleja.
Não é que Alckmin seja, sozinho, um ímã de
votos, como mostra a votação pífia que recebeu na eleição disruptiva de 2018. É
a memória de uma alternância de poder entre PT e PSDB, dentro das balizas que
regem a convivência republicana, que Lula quer evocar como o caminho para
restabelecer a normalidade das relações entre Poderes e entre entes da
sociedade civil.
A questão está na dose de triunfalismo e de
negação dos problemas dos governos petistas que o ex-presidente e seu partido
estão dispostos a adicionar a essa narrativa.
Caso a conclamação do país à superação do
bolsonarismo venha em tom racional, comedido e com compromissos claros de
pactuação e não-repetição de erros do passado, será mais fácil agregar uma
fatia do eleitorado ainda não-convencida.
O salto alto de que a vitória seria
consagradora e no primeiro turno já parece devidamente aposentado diante dos
dados da real politik que resgataram Bolsonaro da lona. A parte do roteiro a
ser apresentado aos que não são do fã-clube "Lula Lá" deve vir logo
depois do anúncio oficial da até outro dia improvável dupla Lulalckmin.
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