Folha de S. Paulo
Nas redes, bolsonaristas fingem que temas
incômodos não existem
Há temas a respeito dos quais a tática do
governo é fingir que eles não existem. A enorme fila de desempregados é
invisível. Fome? Desgraça de países africanos. O preço da cenoura e do tomate
na feira registra uma inflação de 160%? O agronegócio, que é pop, jamais
permitiria tal coisa. Só a ameaça de golpe é real, o restante é guerra cultural.
Uma rima e, para os bolsonaristas em campanha, uma solução.
As redes são nossas, e nelas dizemos só o que queremos, atacamos e cancelamos, subimos tags e memes, decidimos o que é mentira e o que é verdade, acreditamos na capa falsa da Time com Bolsonaro e não acreditamos na capa verdadeira da Time com Lula. Aliás, essa revista não é de hoje que se vendeu ao comunismo, é irrelevante. A mídia somos nós.
Eis por que a campanha de incentivo ao voto
dos jovens entre 16 e 18 anos —que ocorreu sobretudo na internet— foi
considerada uma invasão de território a ser combatida com todas as armas. Para
atuar no esforço da batalha, até um ambiente de influência não virtual foi
convocado: o canhão dos pastores. Aqui na Folha, Anna
Virginia Balloussier revelou que líderes evangélicos intensificaram a
agenda política, dentro dos templos, para vender o candidato Bolsonaro a
eleitores adolescentes.
Contra o lado negro da força, Mark Hamill —o
já setentão Luke Skywalker da saga "Star Wars"— recomendou no Twitter
que se tirasse o título. Leonardo DiCaprio também se posicionou na trincheira
da democracia. Paladino da liberdade de expressão, Bolsonaro mandou DiCaprio
"ficar de boca calada" e parar de falar "besteira". A
esperteza é não perder a chance de interagir com quem tem mais seguidores do
que você, tirando vantagem da exposição.
E assim foi até o fim do prazo do TSE, que
registrou dois
milhões de novos eleitores. Nunca o adolescente foi tão paparicado. Faltou
apenas a recomendação de Nelson Rodrigues: "Jovens, envelheçam
depressa".
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