Lula do centrão
Folha de S. Paulo
Aumento da participação do grupo no governo
provê moderação, mas enseja riscos
O presidencialismo de coalizão é uma
solução de governança em sistema multipartidário para situações em que a chapa
eleita para o Executivo não tem maioria no Congresso. No Brasil, elas ocorreram
em 100% dos pleitos desde 1989.
Os governantes que navegaram contra essa
corrente enfrentaram dificuldades que variaram de contratempos pontuais ao
impeachment. Jair Bolsonaro (PL) cometeu esse erro no início da gestão e
depois, ameaçado, teve de entregar anéis e dedos ao centrão.
Parece vir desse aglomerado de
parlamentares interessados sobretudo na sua sobrevivência regional a novidade
política do segundo semestre da administração Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ensaia-se um embarque substancioso do grupo no governo.
Confirmado o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA) no Ministério do Turismo, as conversas avançam para abarcar duas grandes legendas que apoiaram Bolsonaro em outubro —Republicanos e o PP de Arthur Lira, presidente da Câmara e pivô do centrão.
A válvula de ajuste óbvia para essa
reacomodação ministerial seria diminuir o espaço dos nomeados do PT no governo,
que hoje povoam a Esplanada em proporção muito maior que a sua força no
Congresso. Daí a grita de petistas ameaçados de perder cargos.
Para Lula, francamente minoritário entre
deputados e senadores e testemunha dos solavancos enfrentados em razão de
déficit parlamentar por gestões petistas no passado, a barganha faz todo o
sentido. Para o centrão, as vantagens são autoevidentes.
Para o país, esse acordo político
significaria elevar o teor de moderação e diluir os radicalismos de esquerda.
Terá, por exemplo, mais dificuldades de vingar na agenda central do governo o
voluntarismo intervencionista na economia, hoje albergado no BNDES.
Mas essa regra geral comporta riscos que
não deveriam ser ignorados. O centrão, vale lembrar, foi sócio destacado da
aventura populista que esvaziou teto de gastos federais a partir da segunda
metade da gestão Bolsonaro.
Como operam preferencialmente sob a lógica
pequeno-oligárquica, os parlamentares do bloco são vetores frequentes de
lobbies à caça de privilégios por meio de regulações e contratos estatais. Daí
para a corrupção, é um pequeno passo.
Sem a coordenação de lideranças que pelejem
pelos direitos difusos daquelas pessoas pobres ou distantes demais do poder
para se defender, de pouco adianta consolidar uma sólida maioria parlamentar.
É fundamental que Lula exerça esse papel
articulador, desça do palanque e esclareça quais são as prioridades de seu
mandato. Centrão sozinho não dá rumo.
Crédito incerto
Folha de S. Paulo
Senado enfraquece projeto que facilita
execução de garantias e financiamentos
A recuperação certa e rápida de garantias
dadas na contratação de empréstimos é um dos principais fundamentos da redução
de risco no crédito. Portanto, é um dos fatores que permitem a redução das
taxas de juros e do funcionamento eficiente do sistema financeiro.
O projeto de
lei do chamado marco legal das garantias aprimora os
procedimentos de execução de garantias. Permite uso bem mais amplo de imóveis,
por exemplo, para garantir créditos além dos financiamentos imobiliários.
A proposta foi enviada à Câmara pelo
governo Jair Bolsonaro (PL) em 2021, tendo sido aprovado pelos deputados em
2022. Com o apoio do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), passou com
mudanças pelo Senado no início deste mês e terá de voltar à Câmara.
Apesar de vários progressos, não se
resolveu um ponto central, a regulamentação da desjudicialização.
Um motivo histórico do custo de fazer
negócios no Brasil são os entraves para o emprego de garantias. A facilidade
de judicialização faz com que a execução seja longa e cara. Na
intenção de proteger o devedor inadimplente, prejudica-se a sociedade inteira.
A questão é controversa. Estão em jogo o
sigilo financeiro, a privacidade e a segurança do devedor. Em geral, a nova lei
simplifica a execução, mas fica ainda aberta a porta para incertezas e
litigância indevida. Sujeita-se, assim, a execução à lentidão da Justiça. O
capítulo sobre o assunto saiu do projeto aprovado no Senado e ficou para ser
tratado em outro, de 2019.
O Senado parece ter a preocupação de
proteger os devedores, o que deve de fato ser objeto de cuidado, mas não de
procrastinação.
O confuso sistema de garantias de crédito é
objeto de debate há décadas. Desde o primeiro governo Lula, quando houve
avanços e reduções de custos no financiamento de imóveis e veículos, não há
novidades maiores nessa legislação.
O custo do dinheiro no Brasil é aberração
mundial. A insegurança jurídica é um dos motivos dessa exorbitância. Novos
negócios, em particular de pequenas empresas, têm menos oportunidade de
expansão por falta de financiamento.
Se o marco não for objeto de revisão pela
Câmara, o Congresso precisa tomar alguma providência rápida para consolidar de
vez as normas relativas às garantias, uma reforma que pouco se discute, no
público mais amplo, mas de alcance profundo —da vida cotidiana ao crescimento
econômico.
Novas regras para militares e policiais na
política representam avanço
O Globo
Iniciativa de Defesa e PF é positiva, mas
deve ser ampliada para evitar a militarização da burocracia
É fundamental disciplinar a presença de
militares e policiais em eleições depois das tentativas do governo anterior de
politizar quartéis e delegacias por todo o país. Por isso são bem-vindas as
iniciativas do Ministério da
Defesa e da Polícia
Federal (PF) de apresentar novas regras para a análise do
Congresso no segundo semestre.
O governo deve acelerar uma Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) para obrigar militares decididos a participar de
eleições ou a assumir ministérios a se desligar das Forças
Armadas ou migrar para a reserva. Em entrevista ao GLOBO, o
diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, declarou ter planos de um projeto
para impor quarentena de pelo menos dois anos aos policiais.
Nas eleições de outubro, 56 militares da ativa
e 24 funcionários da PF concorreram. Em muitos casos, esses candidatos
transformaram seus locais de trabalho em extensões informais de seus Q.G.s de
campanha. Os que perderam voltaram e continuaram fazendo política. Tal situação
é inaceitável e precisa ser mudada, mas a reforma será incompleta se não mexer
na militarização da burocracia.
O texto da PEC referente às Forças Armadas
deve ir além de exigir desligamento ou passagem para a reserva de quem virar
ministro. Dos quatro ministros militares de Jair Bolsonaro que assumiram na
ativa, apenas Pazuello ficou na mesma condição até o final.
É necessário regrar a ocupação de todos os
cargos civis. Entre 2013 e 2021, a presença de militares em cargos civis
comissionados triplicou. Nos primeiros dois anos da administração anterior,
havia 6.157 militares em postos do governo.
Os oficiais das três Forças são
qualificados, mas o país não tem deficiência de civis igualmente preparados.
Como mostrou a passagem de Bolsonaro pelo Planalto e os seus muitos escândalos,
a militarização da burocracia é ruim para a imagem das Forças Armadas.
Militares de diferentes níveis hierárquicos se envolveram no caso das joias
sauditas e na política desastrosa de combate à Covid-19.
A gestão dos ministérios também perde com a
militarização. Segundo relatório da CGU, 558 militares da ativa não tinham
registros com amparo legal para o exercício de cargo civil. Outros 930
trabalhavam mesmo com o prazo legal expirado.
A movimentação do Ministério da Defesa e da
PF deveria inspirar os governadores a seguir pelo mesmo caminho. A politização
das forças de segurança é maior nos estados. Entre 2014 e 2022, o número de
candidaturas de bombeiros e policiais civis e militares deu um salto de 43%, chegando
a 1.066.
Os críticos de regras mais rígidas para evitar a politização de delegacias dizem que os demais servidores não sofrem limitações. Esquecem que funcionários civis não trabalham com arma na mão, nem têm a prerrogativa do uso da violência.
O Brasil perde quando o desenvolvimentismo
ganha
O Estado de S. Paulo
Lula acha que o País não vai bem porque o
‘financeirismo’ prevaleceu sobre o desenvolvimentismo. Errado: o Brasil vai mal
pois o desenvolvimentismo nunca foi realmente derrotado
Na primeira reunião do recauchutado
Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), o presidente Lula da
Silva disse que “ficou uma briga de séculos: quem era desenvolvimentista e quem
era financeirista (sic) – os financeiristas (sic) ganharam, e o Brasil perdeu”.
Segundo ele, “está na hora de o desenvolvimentismo ganhar para que a gente
volte a gerar oportunidades para 203 milhões de habitantes”.
Seja lá o que Lula entenda por
“financeirismo”, o “desenvolvimentismo” é bem conhecido. Ele se baseia na
premissa de que a indústria tem um papel diferenciado em relação a outros
setores, o que justifica uma parafernália de intervenções “estratégicas” do Estado
na economia para favorecê-la, como barreiras protecionistas, créditos
subsidiados, desvalorização da taxa de câmbio ou redução forçada dos juros.
“Intervenção” equivale a “distorção” do mercado, mas é uma distorção “do bem”.
A ideia do Estado indutor antecede em muito à industrialização do País. Na verdade, antecede ao próprio País: ela vem desde o Estado patrimonialista português e foi transplantada para o Império. O “nacional-desenvolvimentismo” foi a regra desde a ditadura Vargas até a ditadura militar.
No início da redemocratização, o Brasil era
uma economia fechada, com forte desequilíbrio fiscal, que se traduziu na
hiperinflação. O hiato veio com o governo FHC, que investiu no equilíbrio
fiscal, na abertura econômica, nas privatizações e nas agências reguladoras. Em
seu primeiro mandato, Lula se comprometeu com essa agenda. Então, a crise
financeira de 2007 serviu de pretexto para restaurar as velhas estratégias
intervencionistas, multiplicadas exponencialmente na gestão Dilma Rousseff. O
Brasil perdeu fragorosamente. Não só a participação da indústria na economia
seguiu em queda livre, como o desequilíbrio fiscal – maquiado à base de
“pedaladas” – escalou. No biênio 2015-16, foram pelo ralo quase 7% do PIB,
deixando um rastro de mais de 14 milhões de desempregados.
Como sempre, essas políticas foram
implementadas sem qualquer cálculo de seus custos e benefícios nem metas de
desempenho. O pensamento mágico – lapidarmente expresso na fórmula dilmista
“gasto é vida” – é que basta jogar dinheiro em certos setores da indústria,
sempre “estratégicos”, para que o crescimento milagrosamente aconteça. Não
surpreende que o discurso desenvolvimentista seja tão favorecido por grupos de
interesse que clamam ao Estado por proteção. Na prática, isso cria uma cultura
de tolerância com a ineficiência e poupa os beneficiados de investir na
produtividade para enfrentar a competição.
A associação histórica do dirigismo estatal
com o autoritarismo populista, mais do que mera coincidência, é fruto de
afinidades eletivas. Ambos se reforçam mutuamente. Como já disse neste jornal o
cientista político Sérgio Fausto, “a ideologia nacional-estatista é empregada
para justificar a apropriação do Estado por grupos políticos determinados, o
manejo discricionário das políticas e das instituições públicas e a asfixia da
sociedade civil e das instituições” (ver A miséria do nacional-estatismo,
30/6/2013).
Não por acaso, em artigo, também publicado
neste jornal, em que apresentou sua nova política industrial, Lula disse que o
CNDI daria “missões” à indústria (ver Neoindustrializção para o Brasil que
queremos, 25/5/23). Tampouco é obra do acaso que o artigo não diga praticamente
nada sobre o papel da defasagem do capital humano e do “custo Brasil” na
defasagem crônica da produtividade do trabalhador e da indústria brasileiros. A
solução populista é sempre jogar dinheiro fácil na demanda, e nunca o caminho
difícil da qualificação da oferta.
Em 1989, o então candidato tucano à
Presidência, Mário Covas, defendeu que o Brasil precisava de “um choque de
capitalismo, um choque de livre iniciativa, sujeita a riscos e não apenas a
prêmios”. O que se viu foi um breve espasmo. Agora, Lula deixa claro que
evitará esse choque a todo custo. O Brasil pode esperar por uma nova rodada de
distribuição de prêmios a grupos de interesse corporativistas, clientelistas e
patrimonialistas. As oportunidades para os 203 milhões de habitantes ficarão,
como é a regra no país dos desenvolvimentismos, para as calendas.
A praga dos penduricalhos
O Estado de S. Paulo
O STF leva 17 anos para constatar o óbvio:
que é inconstitucional um escandaloso penduricalho do Ministério Público criado
pelo próprio órgão cuja função é moralizar o MP
Está em julgamento no Supremo Tribunal
Federal (STF) um processo que é uma aula de como as coisas funcionam no Brasil.
Não é preciso generalizar, mas apenas reconhecer um padrão de comportamento por
parte de vários órgãos e entidades, padrão esse que permite a captura do
aparato estatal por setores da elite do funcionalismo público.
Proposta há 17 anos pela AdvocaciaGeral da
União (AGU), ainda no primeiro governo Lula, a ação questiona a
constitucionalidade de um dos penduricalhos do Ministério Público: os chamados
“quinto”, “décimo” e “opção”. São “vantagens pessoais” concedidas a quem
exerceu cargos de direção, de chefia ou de assessoramento em algum momento da
carreira, mas que continuam sendo pagas mesmo após o término dessas funções.
Chama a atenção, em primeiro lugar, a
demora no julgamento de uma ação bastante simples. A Constituição de 1988
proíbe esse tipo de incorporação de benefício. Já era assim antes, mas a Emenda
Constitucional (EC) 19/1998 deixou o tema ainda mais cristalino. Não se pode
transformar em permanente o valor extra motivado por trabalho ou função
adicional.
Agora, formou-se maioria, no plenário
virtual, para declarar a inconstitucionalidade desse penduricalho. Seis votos
acompanharam o entendimento do relator, ministro Luís Roberto Barroso, no
sentido de que a Constituição de 1988 proíbe o “acréscimo de qualquer espécie
remuneratória ou de vantagens pessoais decorrentes do exercício regular do
cargo”. O julgamento terminará após o recesso do Judiciário.
Diante de tema cuja resolução é tão
evidente, a pergunta que surge é: por que o STF precisou de 17 anos para
reconhecer essa inconstitucionalidade? Aqui entram em cena os outros atores
envolvidos na captura do Estado por interesses privados.
O penduricalho agora julgado pelo STF não
nasceu por geração espontânea. Ele foi criado por uma norma de 2006 do Conselho
Nacional do Ministério Público (CNMP), estabelecendo que os integrantes mais
antigos do Ministério Público poderiam continuar recebendo, à parte dos
holerites, valores referentes a funções de chefia que exerceram em alguma etapa
da carreira. O Conselho também liberou o pagamento de adicional de 20% para
quem tivesse se aposentado antes de 1998.
Eis a situação indignante. O CNMP foi
criado em 2004 pela Reforma do Judiciário (EC 45/2004) para fiscalizar e
disciplinar administrativa e financeiramente o Ministério Público. No entanto,
o órgão que vinha moralizar fez, antes mesmo de completar dois anos de
funcionamento, o exato contrário. Em vez de fiscalizar, ele autorizou o
penduricalho inconstitucional.
Há um problema muito grave quando o órgão
de fiscalização se torna o próprio agente de ilegalidades; no caso, de uma
inconstitucionalidade. Não é apenas a realização de uma coisa malfeita, mas a
aprovação – como se estivesse tudo bem – do que está fora da lei. Trata-se de
violação descarada e aplaudida da República.
Mas há outro fator, sempre presente nas
manobras de captura do Estado por setores do funcionalismo, que ajuda a
explicar a demora do julgamento pelo STF. Desde que foi proposta pela AGU, a
ação de inconstitucionalidade contra o penduricalho sofreu enorme oposição por
parte de várias entidades privadas de membros do Ministério Público, a começar
pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR)– aquela que
deseja submeter o processo de escolha do procurador-geral da República à sua
lista de indicações. O argumento corporativista foi o mesmo de sempre: não se
pode aplicar as regras constitucionais sobre os procuradores e os promotores,
uma vez que eles têm “direito adquirido” ao penduricalho. Trata-se de
manifestação evidente de que essas entidades atuam no interesse de seus
membros, e não têm maiores pudores em usar interpretações criativas em seu
benefício.
A Constituição deve valer para todos. A
começar para quem, como o Ministério Público, tem o dever de defender a ordem
jurídica e o regime democrático. Chega de penduricalho. Chega de tanta
conivência com tamanha praga.
A boa iniciativa do Provão Paulista
O Estado de S. Paulo
Avaliação seriada para entrar em
universidades estaduais incentiva alunos a se manter na escola
O Provão Paulista, que o governo de São
Paulo acaba de lançar para o ingresso de estudantes da rede estadual de ensino
em universidades públicas, é a típica iniciativa de ganha-ganha. Ganham os
alunos de escolas públicas um novo canal de acesso à graduação; ganham as
escolas, com a mais do que provável redução da evasão; e ganham as
universidades, com o acompanhamento de parte de seus futuros estudantes durante
todo o período do ensino médio.
Em resumo, ganha a sociedade, com a pequena
– mas importante – contribuição para a redução das desigualdades no País. Por
esse sistema de seleção serão reservadas, de início, em torno de 10 mil vagas
para quatro universidades públicas, além das Faculdades de Tecnologia (Fatecs).
O novo concurso segue uma estratégia tão simples de aumento da inserção de
estudantes da rede pública em instituições gratuitas de ensino superior que é
de perguntar por que não foi pensado antes.
Existem iniciativas que se aproximam da
ideia, como o Programa de Avaliação Seriada (PAS), desenvolvido pela
Universidade de Brasília (UnB). A UnB reserva metade de suas vagas para
ingresso pelo sistema que avalia o aluno durante todo o ensino médio. Mas é um
concurso aberto a alunos das redes pública e privada.
O formato que unirá USP, Unicamp, Unesp e Univesp
(universidade virtual) na oferta de vagas unicamente para os alunos da rede
pública foi idealizado nas próprias instituições e encampado pelo governo do
Estado. As chances de ingresso de estudantes mais pobres na universidade
aumentam de imediato, com o concurso que está sendo preparado para novembro,
mas o maior mérito do programa será manter os alunos nas escolas até o término
do ensino médio.
O desinteresse dos alunos da rede pública –
por acharem que não têm condições de competir em pé de igualdade com os da rede
particular por uma vaga de graduação em curso gratuito – tem sido uma das
causas mais frequentes de evasão escolar. São jovens que tendem a engrossar a
famigerada geração “nem-nem”, que não estuda nem consegue se inserir no mercado
de trabalho formal. Uma lástima que o País precisa se esforçar em combater.
De acordo com dados do Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), em uma década São Paulo viu cair
18,8% a quantidade de matrículas no ensino médio. Em 2013 foi 1,5 milhão de
jovens; em 2022, 1,2 milhão. Isso sem contar as desistências pelo meio do
caminho. A avaliação seriada pode dar a boa parte desses adolescentes o
estímulo de que precisam para persistir nos estudos, pois serão submetidos a
avaliações anuais durante as três séries do ensino médio. A média ponderada dos
exames ditará a classificação.
O jovem precisa de incentivo e de objetivo. E o Brasil necessita urgentemente qualificar sua juventude. Como mostrou o último Censo do IBGE, o País, com 203 milhões de habitantes, caminha para perder seu bônus demográfico – situação em que a população em idade economicamente ativa supera o número de crianças e idosos. A hora de investir e qualificar é agora. Tomara que São Paulo puxe a fila.
Mais crescimento, menos desigualdade
Correio Braziliense
Ainda que os desafios de se recolocar o
país novamente nos trilhos permaneçam, é possível olhar para o horizonte e ver
perspectivas alvissareiras para a economia
Os tempos de incerteza no Brasil,
definitivamente, parecem estar ficando para trás. Ainda que os desafios de se
recolocar o país novamente nos trilhos permaneçam, é possível olhar para o
horizonte e ver perspectivas alvissareiras para a economia. Não à toa, a
confiança de empresários e consumidores aumentou e, entre as multinacionais, o
mercado brasileiro desponta como um dos mais promissores do planeta.
As projeções de crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB), que começaram o ano próximas de 0,5%, caminham para 2,5%,
com chances de bater em 3%. Para 2024, as previsões são de avanço semelhante, o
que resultará em mais empregos e renda. A inflação, que há pouco mais de um
ano, rondava em 10%, está abaixo de 4%, abrindo as portas para que, enfim, o
Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicie o processo de
corte da taxa básica de juros, de 13,75% ao ano, desproporcionalmente alta ante
o atual comportamento dos preços.
Uma série de fatores contribuíram para que
o Brasil saísse da letargia, provocada por uma grave crise política. A tensão
entre os Poderes se dissipou, as dúvidas sobre a forma como o atual governo
conduziria a economia diminuíram consideravelmente, o compromisso com a
responsabilidade fiscal voltou a ser regra e houve o efetivo combate à
inflação. Mais: a atividade econômica, puxada expressivamente pelo agronegócio,
mostrou-se mais forte do que se imaginava e o Congresso redobrou os esforços
para levar adiante projetos que vão mudar o ambiente de negócios no país, em
especial, a reforma tributária.
Não há exagero em dizer que a normalidade
voltou a ser regra no Brasil, um ganho excepcional para a sociedade. É nesse
contexto que se espera ações concretas do governo, sem demagogia, para resolver
os graves problemas que se acumularam nos últimos anos, o mais urgente deles, o
combate à fome. Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU)
apontam que o país tem 21,1 milhões de pessoas que não têm o que comer, um
aumento de 37% no triênio 2020-2022. Não é possível que a miséria absoluta
continue afetando quase 10% da população, a maioria, mulheres e crianças.
O Brasil já deu provas de que políticas
sociais focadas trazem resultados concretos. Mas somente programas bancados
pelo governo não serão suficientes para que o flagelo da extrema pobreza seja
limado do mapa. É por meio do crescimento consistente da economia que se reduz,
efetivamente, as desigualdades entre pobres e ricos e se abrem oportunidades
para aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade. Não há mágicas nesse processo.
E todas as vezes em que o Brasil tentou pular etapas, recorrendo a estripulias,
o resultado foi perverso.
Enquanto o avanço do PIB vai se
consolidando — isso ficará mais claro ao longo do segundo semestre —, a forte
queda da inflação terá papel importante neste momento para facilitar a vida das
camadas menos favorecidas da população. Afinal, a maior parcela dos alimentos
ficou mais barata e as estimativas são de novas quedas nos próximos meses.
Essas expectativas se baseiam no forte recuo dos preços no atacado, ou seja, no
início da cadeia que vai até os consumidores. O valor do trigo e do boi gordo
acumula queda de 17% no ano e o do milho, de 22%. Parte disso será repassada
para as gôndolas dos supermercados.
Aqueles que detêm o poder de decisão têm a responsabilidade de não deixar esse
quadro virtuoso se perder no meio do caminho. A população brasileira não
aceitará mais arcar com os erros daqueles aos quais confiaram o destino no
país. Mesmo com as recentes conquistas e com o reforço da democracia, as
demandas continuam enormes. É hora de agir com bom senso, sem voluntarismos,
para que o Brasil saia do campo das promessas e se encontre com o futuro.
Previsibilidade, responsabilidade e transparência formam o tripé do que se
espera de uma nação mais justa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário