Folha de S. Paulo
Israelenses e palestinos têm igual direito a
um Estado no espaço que ambos consideram seu
Para um humanista deveria ser fácil tomar
posição frente ao conflito entre Israel e
o Hamas.
Israelenses e palestinos têm igual direito a um Estado no espaço que ambos
consideram seu. O ataque da organização terrorista contra moradores dos
kibutzim próximos à Faixa de Gaza só
merece repúdio.
O mesmo se aplica à destruição de moradias e instalações públicas, ao sofrimento agravado pelo bloqueio de luz, acesso a mantimentos e água e –acima de tudo– às mortes por atacado de civis, resultantes do revide de Israel à atrocidade de 7/10.
A invasão de Gaza deve cessar, assim como os
bombardeios ordenados pelas autoridades palestinas contra não combatentes do
outro lado da fronteira. Além disso, é imperioso conter e punir os ataques dos
colonos judeus da Margem Ocidental do Jordão aos vizinhos palestinos. Os mais
de cem reféns feitos em território israelense precisam ser liberados, assim
como deve ser negociada com presteza a soltura de palestinos presos no Estado
judeu por motivos políticos. Netanyahu, os colonos fundamentalistas e o Hamas são
feitos da mesma lama da extrema direita.
Mas o que deveria ser fácil é tudo menos
isso. Pelo mundo afora, uma coorte de ditos progressistas abraça uma forma
perversa de solidariedade aos palestinos. Ignora os feitos do Hamas e, não
raro, parece concordar com seu objetivo: a erradicação do Estado de Israel. Às
vezes, seus pronunciamentos não se distinguem da praga do antissemitismo.
O historiador britânico Simon Sebag
Montefiore e o cientista político teuto-americano Yascha Mounk atribuem tal
posição à crescente influência na esquerda universitária de teorias como a da
descolonização, empregada para caracterizar os israelenses como opressores
brancos, um prolongamento do Ocidente rico e colonialista. Pouco se lhes dá que
a história de Israel seja toda outra: a dos fugitivos dos pogroms europeus; dos
sobreviventes do Holocausto; e dos numerosos contingentes de judeus –morenos
como os palestinos– expulsos dos países árabes.
No Brasil, tais teorias se fundem e, por
vezes, dão roupagem nova a discursos de esquerda forjados nos tempos da Guerra
Fria, das lutas de libertação nacional, da utopia da revolução socialista –e
especialmente da oposição ao imperialismo norte-americano. Esta estabelecia o
norte para a ação: sempre contra os EUA e aliados. Tempos, também, em que a
democracia não era um valor universal e o respeito aos direitos humanos contava
menos que a libertação dos povos.
Ideias hoje incompatíveis com o compromisso
democrático e o reconhecimento do direito de todos a uma vida decente.
*Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.
2 comentários:
Começou bem e foi se perdendo! "Netanyahu, os colonos judeus fundamentalistas e o Hamas são feitos da mesma lama" - sim! Mas é a "democracia" israelense que ASSASSINOU mais de 4 mil crianças palestinas para vingar as dezenas de crianças israelenses assassinadas pelo Hamas recentemente. E a "democracia" dos EUA APOIA INCONDICIONALMENTE este massacre de mais de 10 mil civis palestinos promovido por Israel. A professora já teve muito mais discernimento do que hoje em dia!
Quem domina as palavras e as ideias como ela não pode deixar de denunciar os CRIMES DE GUERRA cometidos constantemente pelo governo israelense neste último mês!
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