Folha de S. Paulo
Indignação e treta nas redes jogaram areia na
proposta
Na década de 1970, auge da especulação
imobiliária na zona sul carioca e nas orlas de São Conrado e Barra da Tijuca,
os cartunistas exploraram a situação olhando o futuro: praias cercadas e com
roletas antes das quais o banhista tinha de pagar para ter direito a se
bronzear, relaxar embaixo da barraca, dar um tchibum ou apenas molhar os pés.
Em 2013 a previsão se confirmou. Dentro do Forte de Copacabana, uma faixa de areia com 70 metros de extensão tornou-se território exclusivo, um clube de luxo para 500 felizardos que se dispunham a desembolsar uma fortuna e usufruir de camarotes, salão de beleza, banheiras de hidromassagem, apresentação de DJs, serviço de mordomo, equipe médica e segurança reforçada. "Nem em Paris os garçons entendem tanto de bebida. Posso bebericar uma taça de Veuve Clicquot e fazer escova no cabelo após mergulhar", elogiavam as frequentadoras.
A farra vip durou um verão. Acabou quando o
Exército, pressionado pelo Ministério Público e o instrumento legal que protege
"o livre acesso às praias e às águas públicas", cancelou o contrato
com a empresa que explorava o espaço. A patuleia o apelidou de "praia dos
riquinhos".
Tão discutida nos últimos dias, a PEC relatada
pelo senador Flávio
Bolsonaro incentiva a criação dos beach clubs. Alguns já operam
no país sem impedimento, em Florianópolis e no litoral do Nordeste. É um sonho
do ex-presidente Bolsonaro. Transformar lugares como Angra dos Reis em réplicas
da Cancún mexicana, quem sabe com o acréscimo de cassinos. Um paraíso para
lavar dinheiro.
Aprovado com facilidade na Câmara em 2022, o controle das praias hoje é motivo de indignação nas redes e combustível para tretas entre celebridades e ex-jogadores de futebol que viraram empresários. Depois de provar do próprio veneno, Flávio disfarça, prometendo mexer no texto da proposta. Como quem anda dando pulinhos na areia quente.
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