O Estado de S. Paulo
Por que não se discute a taxação das blusinhas na sala 171 da Câmara?
Mais um projeto de incentivo à indústria
automotiva foi aprovado. São décadas de protecionismo. O fracasso da
competitividade agora embalado com sofisticação verde. Pela descarbonização da
frota. O caô da vez. Chama-se Mover. Projeto do governo Lula. Que, sem dúvida,
nos move.
Projeto do governo Dilma 3 também é o da taxação de compras internacionais até US$ 50. Assim – leio – se fará “justiça” via tributação no Brasil, pela isonomia concorrencial à indústria e ao varejo locais. Contrabando – o da taxa sobre as blusinhas – embutido no programa de carinho a industrial fabricante de carros nem artificialmente capaz de competir.
Uma coisa tem tudo a ver com a outra. Governo
e Congresso optaram por botar carga no lombo de pobres e remediados enquanto
requintavam o alívio à indústria automobilística. A justiça sendo feita com os
justiceiros envergonhados... A justiça é impopular. O justo imposto das
blusinhas malocado no pacote com novos benefícios fiscais à produção de
automóveis.
Não há uma reforma tributária em curso? Por
que não se discute a taxação das blusinhas na sala 171 da Câmara? Por que não
se faz justiça – para início de conversa – no espaço adequado?
Não se faz justiça com desespero. Haddad,
cuja PEC da Transição expirou, precisa arrecadar. Qualquer tostão vale. A grana
acabou. Precisa rebater despesas que só crescem e incentivos que se
multiplicam. A geração de receitas via revisão de gasto tributário – vê-se – é
insuficiente. Sobram a fabricação de dinheiros e o aumento de impostos. A
classe média baixa pagará a fatura.
Ninguém quer ser pai do bicho. O Parlamento
fugindo das votações nominais. A tunga aprovada simbolicamente, enquanto Lula
tentava colar em Lira a paternidade do monstro. O projeto é de Haddad. O
presidente nada teria com a coisa. Gostaria até de vetá-la. Não foi o que se
plantou? Não vetará. Mui contrariado. Fez acordo. Com Lira. Que tem acordo com
os varejistas brasileiros. Que não querem – sejamos claros – concorrência na
importação de produtos chineses.
E a turma a querer nos convencer de que isso
beneficiará a indústria brasileira. O varejista brasileiro armando lobby para
garantir a competitividade de suas importações desde a China.
Sejamos claros: a disputa é entre
importadores, o projeto prosperando contra o consumidor importador direto de
bugigangas. A turma a querer nos convencer de que o Brasil se desenvolverá com
a população pagando mais caro pelo mesmo produto.
Conforme definiu o economista Roberto Ellery
Jr., “saímos do modelo de substituição de importações para o modelo de
substituição de importadores”.
Movemo-nos, sem dúvida. Andamos até tabelando
o preço do arroz.
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