Folha de S. Paulo
A mentira dita no horário eleitoral é tão
nefasta quanto a invencionice digital
A ministra Cármen Lúcia não
deixou dúvida ao tomar posse
na presidência sobre qual será o foco do Tribunal Superior
Eleitoral neste ano: o combate às chamadas fake news.
As palavras, embora condizentes com a necessidade do tempo atual, soaram um
tanto superlativas se considerada a desigualdade da briga.
De um lado, a ausência de lei que diferencie falsidades deletérias capazes de alterar o rumo de uma eleição de mentiras, às quais se desmente com a verdade. De outro, a força de uma tecnologia cuja potência se intui, mas sobre a qual não se tem ainda completo conhecimento nem instrumentos eficazes de enfrentamento.
O embate se
avizinha duríssimo, sem garantias de sucesso e com riscos de
distorções mesmo que involuntárias à salvaguarda de direitos. Ainda assim,
indispensável pela oportunidade de se confrontar o novo em seus efeitos
nefastos.
O refletor aceso pelo TSE sobre
as plataformas digitais, em contexto de omissão do Congresso, não pode deixar
na obscuridade outros aspectos sob a jurisdição da Justiça
Eleitoral. Bem mais antigos e ainda não resolvidos.
Dentre eles se incluem a morosa e defeituosa
fiscalização das contas dos partidos, hoje inteiramente financiados com
dinheiro público, e o olhar algo complacente sobre os abusos cometidos por
candidatos à reeleição.
Mas, como nosso tema são as invencionices,
voltemos a ele para lembrar que o mal que elas podem causar não se circunscreve
às redes sociais. Frequenta desde sempre o horário eleitoral de
rádio e televisão, uma usina de manipulações e falsidades.
No entanto, os artefatos de exaltação
enganosa de candidatos e desqualificações danosas dos adversários nunca foram
alvo de posições tão enfáticas como as que ora oriundas do tribunal. Não por
carência de exemplos, mas por excesso de benevolência para com seus autores.
Os defeitos do que está aqui requerem a mesma
atenção dedicada aos malefícios do que vem por aí.
2 comentários:
Excelente!
Sei.
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