domingo, 24 de novembro de 2024

A última fronteira do bolsonarismo - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Diante de uma linha divisória tão nítida, alguns já escolheram ser apenas bolsonaristas

Há anos, o bolsonarismo faz a exibição de escabrosidades que testam os limites das elites políticas de direita. Pode ser uma defesa apaixonada da tortura, uma manifestação sombria de apreço pela ditadura, a sabotagem à vacinação, uma cruzada pela destruição institucional ou um extravio de joias milionárias vendidas como muamba.

Com a ressalva de um punhado de deserções, a fidelidade e o entusiasmo da direita por Jair Bolsonaro se mostraram mais do que firmes. Sobreviveram, inclusive, a uma derrota nas urnas atribuída a seu radicalismo. Por devoção genuína a esses princípios ou pragmatismo puro, os principais líderes políticos desse campo ficaram ao lado de um ex-presidente que nunca escondeu quem era.

Um atentado, um plano de assassinato e um indiciamento por tentativa de golpe estabelecem uma linha divisória definitiva. De um lado, fica delimitada a direita, que pode ser mais ou menos conservadora, mas segue regras civilizacionais e democráticas. Do outro, está o bolsonarismo.

A sobrevivência de Jair Bolsonaro será a bandeira única de seu grupo a partir de agora. Estará ancorada numa guerra cada vez mais dura com o STF e na insistência de uma candidatura do ex-presidente, mesmo que esteja impedido de disputar. O que resta da direita, por sua vez, deveria cuidar da própria vida como uma força política independente.

A turma de Bolsonaro tenta confundir as duas coisas, com o objetivo de convencer políticos que correm na raia da direita, dos extremistas aos tradicionais, de que o ex-presidente é um líder imprescindível. Quando a PF revelou o plano para matar Lula e Alexandre de Moraes, o vereador Carlos Bolsonaro perguntou por onde andava "o tal Pablo Marçal" naquele momento delicado em que a direita deveria estar unida.

O filho do ex-presidente mirou em Marçal para acertar gente como Tarcísio de Freitas, que se mostra dependente do capitão, mas flerta com a ideia de um voo solo. O governador de São Paulo, que tenta desfilar com um figurino da direita tradicional, vestiu a farda do bolsonarismo: defendeu o padrinho e aderiu à cegueira deliberada diante das provas contra o ex-presidente. Com a fronteira traçada, ele escolheu seu lado.

 

2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Verdade,cada um que faça suas escolhas,Tarcísio já fez.

Anônimo disse...

Excelente coluna! Nem todo bolsonarismo é burro ou golpista, mas os que continuam apoiando Bolsonaro só podem ser algo assim.