O Estado de S. Paulo
A deterioração das contas públicas e a
esticada dos juros levou alguns comentaristas a denunciar o risco de dominância
fiscal, situação em que o avanço do rombo fica tão inevitável que tira
capacidade da política monetária (política de juros) exercida pelo Banco
Central de combater a inflação.
É cedo para apostar nesse enrosco. O que se
pode dizer é que a desarrumação da economia tende a produzir o que poderá ser
chamado de dominância política – quando as opções eleitorais do governo e dos
maiorais do Congresso acabam por prevalecer sobre as decisões de política
econômica.
Neste 2025, não haverá eleições, mas o climão eleitoral, de olho na sucessão presidencial, na dos governadores e na de renovação do Senado, em 2026, acabará por permear toda a atividade política.
A reforma trabalhista do período Temer já deu
o que tinha de dar. E a reforma tributária, que não foi lá uma Brastemp, mas a
que saiu, ainda vai demorar alguns anos para começar a produzir os efeitos
positivos, especialmente em simplificação do sistema tributário. Ou seja, por
essas vias ligadas à modernização da economia, não há muito com o que contar ao
longo de 2025.
O passado próximo nos induz a temer que o
jogo eleitoral acabe por ampliar os desequilíbrios da economia. Foi assim em
2010, em 2014 e em 2022.
Como já avaliado em colunas anteriores, para
atender a seus objetivos eleitorais, o presidente Lula terá de optar por um
entre dois caminhos: ou tratará de dar força para a responsabilidade fiscal e
para os cuidados com a solidez dos fundamentos da economia, para que a
percepção do eleitor não aponte para o pior; ou preferirá despejar ainda mais
despesas sociais, distribuir renúncias tributárias e uma profusão de créditos
subsidiados, na tentativa de assegurar a boa vontade do eleitor para o próximo
pleito.
Difícil saber para que lado olhará Margarida.
O que se pode dizer é que, tanto para o presidente Lula como para as forças à
esquerda do espectro partidário que o apoiam, falta convicção de que seja
necessário um ajuste sério. É gente que prefere empurrar as soluções dos
problemas com a barriga ou entregar pacotinhos para tentar sossegar os
rendeiros e a turma da Faria Lima, como o que acaba de ser aprovado.
A partir daí, aumentam as incertezas sobre a
estabilização da dívida pública, sobre o comportamento da inflação, sobre a
trajetória do câmbio e dos juros, cronograma de investimentos... e por aí vai.
Se for confirmada a piora das condições
financeiras, aumentará o custo do refinanciamento da dívida e, outra vez, as
despesas tenderão a ultrapassar a arrecadação de impostos.
Parece improvável que o presidente Lula
concorde com essa avaliação, embora seus ministros da área econômica o venham
advertindo para esses riscos. Isso sugere que será preciso que a situação piore
antes de que comece a melhorar.
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